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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia



15 dez

Nenhum lugar é mais importante em Goiás, hoje, que o prédio da Assembleia, onde trabalham os 41 deputados que estão com a mais decisiva agenda de reformas da história do Estado nas mãos

O futuro de Goiás está hoje literalmente nas mãos dos 41 deputados estaduais que trabalham no prédio que invadiu ilegalmente a reserva do bosque dos buritis para sediar a Assembleia Legislativa, a quem compete, agora, a apreciação da mais crucial agenda de reformas jamais colocada na suas mãos em qualquer momento anterior da sua história. Trata-se do pacote de projetos enviado pelo governador Ronaldo Caiado, mostrando uma ousadia que só poderia vir de quem foi ungido pelo voto de sete entre cada dez goianos – o que, em termos eleitorais, praticamente corresponde a uma unanimidade.

Quase tudo de que o Estado precisa para reencontrar o caminho virtuoso do equilíbrio entre receita e despesas e voltar a investir tanto no aperfeiçoamento quanto na ampliação das políticas públicas que beneficiam diretamente a população, está lá. Fim dos injustificáveis privilégios do funcionalismo, eliminação das distorções dos incentivos fiscais, extinção de fundos orçamentários ultrapassados, racionalização administrativa, privatização de empresas públicas inúteis para as goianas e os goianos e mais alguma coisa. Nada que não seja da mais profunda repercussão na reorganização das finanças estaduais e da sua adequação aos interesses gerais da sociedade – e não de segmentos específicos.

A pauta que Caiado apresentou à Assembleia é tão pesada que os parlamentares ficaram momentaneamente desorientados. Corretamente, o governador decidiu fazer tudo de uma só vez, depois de quase um ano avaliando e analisando os possíveis caminhos a seguir. Ninguém é obrigado a concordar com tudo o que ele pensa e faz. Mas é preciso admitir que se trata de um gestor bem intencionado. São 70 anos de idade e uma longa carreira política, até hoje imaculada. Ele já estava inscrito na história de Goiás, mas o que pode resultar do seu governo é uma vaga ao lado de nomes essenciais para o Estado como Pedro Ludovico, Iris Rezende e Mauro Borges.

Não há mais nada entre o necessário e inadiável ajuste fiscal do Estado, consubstanciando no pacote de matérias que Caiado colocou na Assembleia, e a sua efetivação a não ser a pequenez ou o amiudamento da visão de alguns poucos deputados. De um lado, os da oposição que acreditam que o seu exercício institucional é ficar contra tudo o que vem do Executivo, inclusive as propostas que defenderam quando estavam vinculados aos governos do passado. De outro, alguns poucos representantes do corporativismo mais atrasado, que buscam uma impor um filtro aos objetivos maiores da ação do governo estadual, condicionado ao atendimento das demandas de setores minúsculos dentro do conjunto de sete milhões de goianas e goianos – caso dos parlamentares militares, policiais civis ou membros do escalão mais privilegiado do funcionalismo, como Virmondes Cruvinel, procurador do Estado (em Roraima, salário superior a R$ 30 mil mensais).

Levada a efeito, a agenda reformista de Caiado consagrará a sua liderança na criação de um novo Estado, livre do modelo de desequilíbrio entre receita e despesa que vigorou no passado. Isso nunca foi tentado antes. Mas os deputados estaduais também serão julgados nesse episódio crítico para o futuro de Goiás. Eles receberam uma oportunidade ímpar para estar ao lado de cada um dos seus eleitores, de verdade, e não apenas no discurso demagógico. A hora é essa.