Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

16 maio

Programa “FIEG Mais Solidária” alega ter doado 100 toneladas de alimentos e insumos a famílias carentes: provavelmente não é verdade, mas, se for, é uma mixaria que envergonha o grande empresariado

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás – FIEG, o impagável Sandro Mabel, deitou falação em uma entrevista à rádio Sagres, onde pontificou sobre assuntos médicos e científicos (“O coronavírus veio para ficar. Não tem esse negócio de que nós vamos ficar livres do corona, não. O coronavírus vai pegar 70% das pessoas. De 60% a 80%, uma média de 70%, todas as pessoas vão pegar”, foi uma das suas declarações estapafúrdias), investiu mais uma vez contra o isolamento social como medida de prevenção contra a pandemia e se gabou de liderar um programa, denominado “FIEG Mais Solidária”, que já teria doado 100 toneladas de alimentos e insumos à população carente do Estado.

Este blog tem acompanhado com atenção o, digamos assim, índice de generosidade dos grandes empresários e milionários que habitam Goiás. E pode afirmar que… é baixíssimo. Não há solidariedade com as goianas e goianos mais humildes entre os favorecidos pela sorte no estado, a não ser quanto a raríssimas e honrosas exceções. Nessa hora, é indispensável uma comparação com os incentivos fiscais, que nas últimas décadas têm repassado entre R$ 8 e 12 bilhões anuais para as 534 maiores empresas aqui instaladas – e pelo menos uma ínfima parte dessa montanha de dinheiro elas deveriam retornar para a população, em especial na situação de calamidade pública trazida pela peste, só que se recusam a fazê-lo.

As 100 toneladas de alimentos e insumos (tipo máscaras e termômetros) arrotadas por Sandro Mabel não passam de uma piada de mau gosto. Para começo de conversa, provavelmente não se trata de um número verdadeiro, vez que os releases distribuídos pela própria FIEG fazem referência, no total, a 7 cargas levadas de camionete a entidades filantrópicas, cada uma em torno de 500 quilos. Presumindo-se que se trata de uma instituição que representa os capitães de indústrias de Goiás e que, portanto, seria uma entidade séria e responsável, vamos admitir que, sim, as tais 100 toneladas são reais. Isso significa, convertendo-se esse quantitativo em cestas básicas, para efeito de raciocínio, teríamos no máximo 2 a 2,5 mil delas, que qualquer um compraria na rede atacadista pr R$ 100 a 150 mil reais – dinheiro de troco quando estamos nos referindo a uma associação classista que se arvora a falar em nome de 30% do PIB estadual.

Isso deveria envergonhar Sandro Mabel, se a tivesse na cara, como se costuma dizer. Não é nada perto da capacidade econômica dos supercapitalistas que a FIEG representa e que, de resto, vivem de parasitar o caixa do governo do Estado, que esvaziam com as suas milionárias isenções e descontos de ICMS – algo perto da criminalidade comum, conforme deixou em pratos limpos o relatório da CPI dos Incentivos Fiscais da Assembleia Legislativa, cujo resumo pode ser lido aqui e comprova que existe um certo gangsterismo na usufruição à vontade e sem qualquer monitoramento das mais absurdas e descabeladas benesses tributárias em vigor em Goiás, em troca de muito pouco em matéria de empregos e geração de renda.

Cantor sertanejo e influencer digital (Gusttavo Lima e Rafa Kalimann) mostraram mais compaixão com os esquecidos da fortuna em Goiás que os nossos milionários, alguns bilionários até, e empresários de alto coturno, ao fazer doações expressivas para socorrer quem mais precisa neste instante de emergência. Perto deles, a poderosa FIEG, inteira, não vale um tostão furado na moeda da solidariedade.