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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

31 jan

Fiasco na Assembleia, o primeiro e mais sério tropeção político do governo Caiado, vai para a conta de Ernesto Roller, que agora corre o risco até de deixar a Secretaria de Governo

Nos bastidores do Palácio das Esmeraldas e também da Assembleia, a responsabilidade pelo fiasco da candidatura de Álvaro Guimarães, com os seus reflexos negativos como primeiro e mais sério tropeção político do governo Ronaldo Caiado, está sendo toda jogada no colo do secretário de Governo Ernesto Roller.

 

Roller foi audacioso ao renunciar a dois anos de mandato na prefeitura de Formosa para assumir a pasta a que, oficialmente, foi entregue a coordenação do relacionamento com os deputados, prefeitos e a classe política em geral. Chegou, assim, cheio de moral, com o currículo robustecido pela jogada que fez de Lincoln Tejota o vice de Caiado e balançou os adversários, ideia e articulação inteiramente dele. Já na secretaria, a certa altura a candidatura de Álvaro Guimarães começou a fazer água e se noticiou que Roller estaria entrando de corpo e alma na parada, claro, para definir o resultado a favor das conveniências do governo. Um pequeno gesto do secretário também ajudou a esvaziar as suas credenciais: ele nomeou a própria mulher para um cargo na OVG, quer dizer, atendeu primeiro aos seus interesses, sem nunca, até hoje, ter encaminhado os dos próprios deputados.

 

E aí a situação se complicou: os deputados receberam muito mal a intervenção do secretário. Isso se agravou com o seu comportamento impaciente, às vezes ríspido também, aliás definido por um dos parlamentares abordados como “estúpido”. Roller, como se sabe, tem o gene dos Caiado no sangue, pertence a um ramo da família que deixou para trás o sobrenome, mas é da gema. Dizem que caiadismo e autoritarismo são sinônimos, o que pode ser exagero, mas é verdade que houve muita prepotência para provocar e empurrar a Assembleia a uma reação em defesa da sua afirmação e na recusa a dobrar os joelhos na direção da Praça Cívica.

 

Se der ouvidos aos deputados estaduais, que o estão humilhando com uma derrota que terá repercussão nacional e acrescentará um ingrediente de fragilidade à sua imagem, Caiado não manterá Roller na Secretaria do Governo – no comando da qual perdeu em menos de um mês a capacidade de diálogo com a Assembleia. Como em política todo espaço vazio é imediatamente ocupado, quem se projetou nas conversas com os deputados foi o secretário de Desenvolvimento Social Marcos Cabral, ex-prefeito, habilidoso, respeitoso e sobretudo conciliador. Basta chamar qualquer deputado, aleatoriamente, e Caiado receberá para sugestão trocar de lugar Cabral e Roller e desobstruir os canais de comunicação com o Legislativo – brincar com isso é brincar com fogo.