Ressaca da eleição de Lissauer Vieira para a presidência da Assembleia traz junto o esboroamento da base de apoio de Caiado e o surgimento de riscos para a sua governabilidade
A Assembleia Legislativa vai voltar a funcionar a partir de 19 de fevereiro próximo (os deputados, claro, vão receber os salários do mês integralmente) dentro de uma configuração política inédita em relação às suas últimas décadas: pela primeira, o governo do Estado não terá uma base de apoio definida para garantir a aprovação das matérias do seu interesse.
Esse é o maior e mais perigoso efeito da eleição de Lissauer Vieira para a presidência da Casa, atropelando o candidato da preferência do Palácio das Esmeraldas com uma maioria esmagadora de 37 votos – inicialmente sob a bandeira de “zerar” o Poder, isto é, livrá-lo da influências externas como a do ex-governador Marconi Perillo, mas depois assumidamente como um projeto de oposição rasgada ao novo governo.
Caiado cometeu erros infantis depois que venceu a eleição. E continua. Nunca chamou deputados estaduais para conversar. Até hoje, aliás, mesmo depois da cacetada que tomou com a vitória de Lissauer Vieira, não o fez, apesar das seguidas advertências que tem recebido, como, por exemplo, a do seu candidato derrotado a presidente do Legislativo, Álvaro Guimarães, que avisou o governador, publicamente (em nota na coluna Giro, de O Popular) que está passando de hora de montar uma base de apoio consistente entre os deputados estaduais. Na prática, ao condenar repetidamente os “conchavos” dos governos passados (mas fazê-los na surdina), o governador parece tentar deslegitimar as demandas dos parlamentares – que, deveria admitir, são naturais e decorrentes da representatividade que adquiriram ao vencer as eleições.
O caldo começou a entornar para Caiado, na Assembleia, quando ele escolheu trazer nomes de fora para compor o seu secretariado, ignorando a classe política estadual. Piorou quando esses “forasteiros” assumiram e lotaram os cargos de importância das suas pastas também com convidados de outros Estados. E azedou de vez quando o governador foi a um debate com os deputados sobre a situação de calamidade financeira em Goiás e destratou alguns deles com ironias e sarcasmos. O troco veio na eleição para a presidência, mas como se sabe que o que está ruim sempre pode degenerar ainda mais, o que vem pela frente tende a ser muito mais grave: é a governabilidade de Caiado que será afetada.
Sem base parlamentar formada e estranhamente sem nenhuma articulação para se chegar a uma, o primeiro teste virá com a apreciação da segunda parte da reforma administrativa, prevista para meados de março, possivelmente a decisão mais importante a ser submetida ao Legislativo pelo novo governo nesses passos iniciais. Podem anotar, leitora e leitor: será mais uma derrota.