Articulação política do governo Caiado é disfuncional e tem a família como origem das dificuldades de relacionamento com a classe política e especialmente com os deputados estaduais
O governo comandado por um dos políticos mais experimentados da história de Goiás, com uma longa carreira parlamentar, não consegue formatar uma base de apoio na Assembleia Legislativa e por isso está mergulhado em uma semiparalisia, com os seus passos contidos pelo receio de submeter à apreciação dos deputados a segunda parte da reforma administrativa e vê-la simplesmente derrubada – o que configuraria uma derrota de proporções tão catastrófica quanto foi a eleição de Lissauer Vieira para presidente da Assembleia passando por cima dos interesses do Palácio das Esmeraldas.
A segunda parte da reforma administrativa é essencial para os necessários e indispensáveis cortes de gastos e para adequar o governo à visão operacional de Caiado e sua equipe. Ela vem sendo adiada sucessivamente porque, por um lado, o governador não sabe exatamente o que pretende, enquanto, por outro, não tem nenhuma garantia de que os deputados estaduais a ratificarão. Mas por que o Executivo, com o poderio da sua máquina de distribuir benesses e até mesmo com o “balcão de negócios” que Caiado abriu para negociar cargos com os parlamentares, não consegue assegurar algo tão trivial como o respaldo da Assembleia, algo que os 10 últimos governadores antecessores do atual conseguiram com facilidade?
Para responder a essa questão, é preciso ir a fundo. E se deparar com a influência que a família de Caiado exerce sobre ele, em especial sua mulher Gracinha, a filha Anna Vitória e o genro Alexandre Hsiung. Eles têm uma concepção em comum: acham que o marido, pai e sogro foi eleito para mudar as práticas políticas em Goiás e afastar de vez os costumes envelhecidos que, no passado, ajudaram a gerar escândalos e a desgastar as administrações do PSDB e do antigo PMDB. Gracinha, de todos a que mais sugestiona a conduta do governador, é quem mais defende esse ponto de vista: Caiado tem a missão sagrada de implantar a “nova política” no Estado e por isso deve ser manter puro, à distância e jamais ceder nas negociações fisiológicas mesmo com aqueles que o apoiaram desde o início da sua campanha.
Nunca se viu, no governo de Goiás, uma família tão ativa e dominante quanto a de Caiado. Não à toa, isso se expressa nas duas dezenas de nomeações de parentes, que o Palácio das Esmeraldas assumiu sem a menor preocupação com a opinião de quem quer que seja. O jornal O Popular chegou a publicar uma reportagem de uma página sobre a infestação de Caiados na administração e nada. Eles não dera a menor bola. Com a primeira-dama Gracinha no papel de grande mentora da rejeição à política tradicional e com o seu indiscutível poder sobre o seu companheiro, não é de se estranhar que o governo, no pouco que tem de articulação com os deputados, seja tão disfuncional.