Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

30 maio

Propostas para PPPs apresentadas por Caiado a investidores no Fórum da Revista Exame, o mais importante do país, são abacaxis que só servem para espantar eventuais interessados em Goiás

Este blog tem insistido na tecla de que o governador Ronaldo Caiado é muito mal assessorado. Como não tem formação alguma em administração, a não ser a sua experiência localizada como pecuarista, Caiado tem necessidade, sem demérito algum, de ser orientado por uma equipe de alto nível, em todos os setores do seu governo, para realmente cumprir o que prometeu na campanha –  a mudança –  e levar Goiás e os goianos a um patamar superior de desenvolvimento e justiça social.

 

Na atual gestão, parece ser dominante uma visão jurídica do setor público, caracterizada pelo excesso de órgãos de controle, muitos superpostos, e o rigoroso monitoramento que foi imposto através dos superpoderes atribuídos à Procuradoria Geral do Estado. Não há nada de errado nisso, ao contrário. Mas há um espaço em aberto, que deveria ser ocupado por economistas e especialistas – planejadores, enfim – capazes de dar um rumo e principalmente ajudar o governador a não cair em situações constrangedoras, dado ao seu voluntarismo às vezes infantil.

 

Um exemplo foi a palestra que Caiado deu a investidores brasileiros e estrangeiros no Fórum Exame Parcerias Público-Privadas e Concessões 2019, realizado na Câmara Americana de Comércio, em São Paulo. É um evento da maior importância, talvez o mais destacado da área de discussão de oportunidades de negócios envolvendo entes públicos no Brasil, tanto que estavam lá 12 governadores, inclusive o paulista, e o presidente do BNDES Joaquim Levi, que é o principal órgão financiador para as PPPs, quaisquer que sejam os níveis governamentais envolvidos.

 

Quando se esperava que Goiás fosse apresentado quanto aos números da sua economia, potencial futuro e possibilidades de parcerias, concessões e desestatizações, o que Caiado disse? Tristemente, ofereceu aos peso-pesados do mundo empresarial que estavam presentes a chance de fazer PPPs para produzir medicamentos em sociedade com a Iquego, uma empresa estadual que já deveria ter sido fechada há anos, mas continua dando prejuízos – com um equipamento que há três décadas já era superado e não fabrica hoje um único remédio. Se fosse apenas isso, ainda seria possível disfarçar. Só que Caiado não se envergonhou e foi mais fundo, sugerindo também PPPs para explorar parques estaduais (como o da Chapada dos Veadeiros) e até mesmo o Rio Araguaia. Não tem sentido. Quem é que estaria disposto a colocar dinheiro na exploração de pontos turísticos em Goiás, quando se sabe que o único com potencial de retorno é Caldas Novas e seu fantástico manancial de águas quentes.

 

Iquego e parques estaduais são abacaxis, nada mais, do ponto de vista de retorno para investimentos. Não têm nenhum efeito de atração, muito menos para PPPs, e jamais poderiam ser citados perante uma plateia tão qualificada como a que ouviu a fala do governador – onde pontificavam representantes de grandes conglomerados e fundos com mais capacidade financeira que muitos Estados, inclusive Goiás. Para piorar, Caiado acrescentou que dispõe de uma estatal – a Goiás Parcerias – pronta para auxiliar os interessados na formatação dos acordos entre empresários e o governo goiano. Paciência. A Goiás Parcerias é apenas um cabide de empregos desde que foi criada pelo então governador Marconi Perillo, não tem sequer site na internet e – horror – nunca celebrou uma única associação em seus mais de 10 anos de existência. Seu quadro de técnicos é pífio. E Caiado a entregou a políticos de baixo escalão, com o objetivo de suprir os “conchavos” que ele, da boca para fora, diz que não faz de jeito nenhum.

 

Uma assessoria preparada não teria permitido que Caiado caísse nessa esparrela, que beirou o nível de desdouro no Fórum da revista Exame.