Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

10 jun

Depois das revelações de O Popular, programa Juntos pelo Araguaia exala cheiro de malandragem e, de ação de makerting e sem recursos, transforma-se em algo que é muito pior: uma farsa

É uma vergonha e um desdouro para o governador Ronaldo Caiado, um homem que gosta de se apresentar como mais sério e ético do que qualquer outro em Goiás, a reportagem que o Popular publicou neste último domingo, 9 de junho, sobre o programa Juntos pelo Araguaia – suposto plano conjunto entre os governos federal, o de Goiás (que seria o líder da iniciativa) e o de Mato Grosso para recuperar áreas degradadas à margem de um dos cursos d’água mais emblemáticos e conhecidos do país, o rio Araguaia.

 

Leia a reportagem de O Popular (pode ser exigida senha para acessar).

E aqui, mais informações sobre a falta de recursos para o programa Juntos pelo Araguaia.

 

Primeiro, O Popular relembrou o que já se sabia: o programa não tem nem um centavo garantido para a sua execução. Ou seja, irresponsavelmente, foi lançado pelo presidente Jair Bolsonaro, de mãos dadas com Caiado e o governador matogrossense Mauro Mendes(foto acima), sem a citação de uma única fonte de recursos de onde sairiam os R$ 500 milhões anunciados para custear a tal recuperação de terras desmatadas em áreas ribeirinhas e a caríssima retirada de 200 mil toneladas de sedimentos que hoje estão quase caindo dentro do rio. Mas o que vem a seguir, descoberto pelo jornal, é muito mais preocupante: o programa tem como objetivo beneficiar fazendeiros que desmataram reservas, ao se propor a pagar pela revitalização de áreas na bacia do Araguaia que, pelo Código Florestal, deveriam ser recuperadas pelos proprietários.

 

Sem meias palavras, trata-se de um crime. Dinheiro público, caso o programa vá para a frente, seria utilizado para beneficiar pessoas físicas e jurídicas que possuem glebas às margens do rio Araguaia, transferindo para o Estado uma obrigação que, pela legislação vigente, é somente delas. O Popular publicou a opinião de um especialista em questões ambientais, o professor da PUC José Antonio Tietzmann: “O programa estará recuperando pelo proprietário uma área desmatada ilegalmente por ele. Pensa assim: eu vou lá e desmato ilegalmente e  voluntariamente todas as minhas APPs para plantar soja. Planto soja até no barranco do rio. Se eu aderir ao programa, alguém vai recuperar para mim o que era a minha obrigação e eu ainda vou poder prestar contas como estando ok perante ao órgão ambiental”.

 

Não poderia ser mais claro. O programa Juntos pelo Araguaia é muito pior que um improviso ou uma jogada de marketing porque, na verdade, não passa de uma farsa destinada a beneficiar o setor rural.