Governo em que a mulher do governante mete o bedelho em tudo acaba distorcido e no final das contas tem a sua própria autoridade afetada porque se trata de uma interferência ilegítima
Não é segredo para ninguém que a primeira dama Gracinha Caiado, que gosta chamar a si própria de “leoa”, tem gosto e vontade suficientes para interferir em todas as áreas do governo do seu marido Ronaldo Caiado – o que, pela tradição política brasileira, nem sempre dá certo e acaba funcionando como combustível para crises sucessivas, distorção dos atos administrativos e quebra da legitimidade de quem foi eleito, mas delega grande do seu poder.
Ninguém tem na memória, pelo menos em Goiás e quiçá em todo o país, uma primeira dama que tenha atuado com tanta presença e força como Gracinha Caiado. O problema é que ela tem uma visão política eivada de limitações, dada a sua pouca experiência e falta de vivência no ramo. No final de contas, isso acaba criando problemas para o andamento do governo. Nem uma única nomeação, por menor que seja, sai sem o consentimento dela. O secretário Anderson Máximo, da Casa Civil, passa até duas semanas sem falar com Caiado, mas jamais um único dia sem despachar com a senhora de todas as decisões do Palácio das Esmeraldas.
Caiado deve saber dos riscos que corre ao permitir que a sua companheira se dê a ousadias como puxar a orelha do presidente da Assembleia Lissauer Vieira, como ocorreu na Cidade de Goiás, durante as festividades da transferência da sede do governo para a velha capital. Gracinha tomou satisfação pelas declarações de Lissauer contra a adesão de Goiás ao Regime de Recuperação Fiscal e prometeu que a Assembleia será responsabilizada caso o salário do funcionalismo venha a atrasar se o RRF não for aprovado pelos deputados. E a ameaça não foi feita só ao presidente, mas também a outros parlamentares, como, por exemplo, Vinicius Cirqueira, fiel integrante da base caiadista que ficou estuporado – e contrariado – com o que ouviu da primeira dama.
Nem Lissauer nem Cirqueira retrucaram. Falar com a consorte do governador é pisar em ovos ou talvez em brasas. É preciso ter muito cuidado porque, daqui para ali, um deslize qualquer poder levar a uma questão de família, com desdobramentos imprevisíveis. É isso que Caiado está ignorando, ao permitir que uma outra força que não a sua pessoal se levante no direcionamento do seu governo, sem ter, para isso, recebido o aval das urnas e a consequente legitimidade institucional. É fora do padrão e incomoda. Provavelmente, um erro grave na medida em que cria uma distorção e um risco enorme para o governador.