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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

20 ago

Caiado continua a trocar ofensas com Marconi e baixa o nível da linguagem com acusações graves que ele, agora, precisa comprovar sob pena de ser tachado de leviano ou faltar com o decoro do cargo

Este blog não tem conhecimento de um momento, na história de Goiás, em que um governador recorreu a uma linguagem tão pesada e a acusações tão graves contra alguém que o tenha antecedido no cargo como Ronaldo Caiado, agora, faz com Marconi Perillo.

 

É conveniente lembrar que Marconi hoje não é nada: apenas um ex-governador, que sequer reside em Goiás, tendo se transferido com a família para São Paulo, onde, segundo afirma, está trabalhando. Já com Caiado, é diferente. Ele é a maior autoridade do Estado, exercendo uma função em que não apenas encarna as responsabilidades do Poder Executivo, como também representa as goianas e os goianos, inclusive aqueles que não votaram nele. E, finalmente, alguém legalmente compelido a obedecer ao decoro exigido pela chefia do Poder Executivo.

 

Quem começou a troca de insultos entre os dois foi Caiado, ao falar – pasmem, leitora e leitor – na missa final da Romaria do Muquém. Marconi, que estava quieto no seu canto, retrucou. Caiado rebateu. Marconi devolveu. E Caiado novamente voltou a atacar, dessa vez perdendo todos os freios, abusando de uma linguagem totalmente incompatível com o fato de ser governador de Goiás e fazendo acusações gravíssimas, em meio a afirmações algumas vezes até sem o menor nexo.

 

Se for um homem sério, com noção dos deveres embutidos no mandato que conquistou e está exercendo, Caiado está na obrigação de apresentar provas ou pelo menos indícios das sérias acusações que lançou contra o ex-governador tucano. Vai aqui um resumo: 1) Marconi teria um patrimônio de bilhões de reais; 2) Seria um criminoso maior do que Sérgio Cabral, 3) Suas filhas estudaram na Suiça por conta de terceiros, 4) Da mesma forma, a festa de casamento de uma delas teria sido paga por terceiros, 5) Seu pai seria dono de uma propriedade rural sem ter recursos para isso e 6) Seu irmão também seria proprietário de uma fazenda em Mato Grosso, que na verdade seria dele, Marconi e 7) Cometeu uma infinidade de crimes, mantendo laranjas, ganhando dinheiro com todas as operações do Estado, chefiando uma quadrilha para assaltar os cofres públicos, chegando a promover uma reunião do secretariado para discutir a partilha dos recursos roubados.

 

Isso não é brincadeira. E saiu da boca de um governador, que ainda temperou as acusações com as bravatas juvenis nas quais era pródigo nos tempos de deputado federal e senador, mas havia abandonado a partir da candidatura ao governo. Caiado chamou Marconi de “frouxo”, repetiu várias vezes que ele não tem “coragem pessoal” e o desafiou para um enfrentamento em qualquer campo. Ainda desdenhou da Justiça, a que o tucano prometeu recorrer para reparar o dano moral das calúnias com que se sentiu atingido. Para Caiado, a Justiça ou é muito lenta ou não resolve nada, devendo os dois, ele e Marconi, convocar auditores fiscais para vistoriar as contas bancárias de ambos e suas respectivas faturas de cartão de crédito, a fim de se comprovar quem pagou os estudos das filhas (as de Caiado também estudaram na Suiça, conforme ele revelou no falatório). Não tem sentido.

 

No final das contas, dói ver um governador de Estado debatendo nesse nível, pior ainda quando é ele quem tomou a iniciativa de puxar a discussão para tão baixo. Na primeira das notas que divulgou para rebater Caiado, Marconi cometeu um deslize, mas um único: chamou o adversário de “canalha”, o que foi um excesso que ele parece ter percebido ao evitar expressões parecidas na segunda nota. Fora esse escorregão, os termos do ex-governador foram duros, porém aceitáveis quanto a uma polêmica essencialmente política. Quem passou dos limites e agora está devendo é Caiado. Principalmente ao voltar a encarnar o tipo valentão, que chama desafetos para resolver no braço.

 

E, sim, o governador tem que apresentar, e rápido, as provas que atestariam que nada do que ele disse foi inventado. Se não o fizer, passará por um grande mentiroso. Vale lembrar que, desde que assumiu, ele nunca apontou um caso concreto de corrupção praticado nas gestões passadas que tenha sido descoberto e apurado pela atual. O máximo a que chegou foi uma estória muito mal contada na esfera do Ipasgo, da qual até o presente instante não saiu nada de real – com um agravante, para Caiado: o Ipasgo recontratou por R$ 17 milhões, sem licitação, a empresa que o próprio instituto acusou de envolvimento nas supostas falcatruas.

 

Quer queira ou não o governador, Goiás está em um estágio civilizatório que dispensa extravagâncias inconsequentes que mostram como imaturo um homem de 70 anos (Caiado completa essa idade a 25 de setembro próximo), em cujas mãos estão depositadas as esperanças dos milhões que votaram nele na última eleição.