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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

02 set

Caiado é ingênuo, inexperiente e excessivamente confiante em sua própria força, por isso levou manta mais uma vez: o acordo com a Enel foi mais favorável à empresa que a Goiás

Não há o que comemorar com o acordo celebrado entre a Enel, o governo de Goiás e a Aneel (que representa o governo federal) para supostamente melhorar a prestação de serviços de energia elétrica em Goiás, contra a qual é quase que unânime a reclamação de todos os setores da economia estadual e também dos consumidores residenciais.

 

A Enel, vejam bem, leitora e leitor, é uma companhia de porte mundial, presente em 45 países e listada na Bolsa de Nova Iorque. Ou seja: tem um poderio incomensurável e, portanto, dentro do seu potencial, digamos assim, não é de dar ponto sem nó. Seus donos são italianos e têm experiência para dar e vender. Eles compraram a Celg para ganhar dinheiro e não para fazer políticas públicas ou qualquer tipo de benemerência. No Brasil, a Enel é proprietária de geradoras (como a usina de Cachoeira Dourada, uma verdadeira mina de ouro) e faz transmissão em quatro Estados: Rio de Janeiro, Ceará, Goiás e o maior deles, superior a esses três somados, que é São Paulo. O seu objetivo é um só: lucro.

 

Seria pouco crível que um portento desses se arvoraria em antecipar investimentos e tirar dinheiro do próprio caixa para atender a interesses políticos e sair do cronograma financeiro traçado, que é de provavelmente gastar com a ampliação das linhas e estações rebaixadoras apenas o que estiver previsto na destinação de parte do faturamento anual em cada Estado onde atua. E foi mais ou menos isso que aconteceu no acordo que teoricamente vai resolver as demandas colocadas quanto a falta de atendimento em Goiás, onde falta disponibilidade de energia para atender a novos empreendimentos e também são baixíssimos os índices de satisfação dos consumidores em geral – tanto que a Enel é a última no ranking de qualidade da Aneel.

 

Ronaldo Caiado é um governador que acredita excessivamente em sua força e capacidade para resolver os problemas do Estado, mas a verdade é que é inexperiente – sempre foi parlamentar e nunca passou pelo Executivo – e até ingênuo. Um exemplo foi a combinação que fez, no final de 2018, com os empresários beneficiados pelos incentivos fiscais, para que pagassem R$ 1 bilhão a mais em ICMS em 2019. Não aconteceu, conforme a secretária da Economia Cristiane Schmidt chegou a denunciar. Caiado levou uma manta e é mais ou menos isso que os italianos da Enel fizeram com ele agora, com a anuência da Aneel (agência do governo federal suspeitíssima,  que até hoje só agiu contra uma empresa do setor elétrico, a Rede, que teve concessões cassadas no Mato Grosso e no Pará por entrar em situação de falência).

 

O acordo que em tese levaria a um upgrade no fornecimento de energia elétrica em Goiás quase não antecipa nada que já não estivesse previsto na programação anterior da Enel. Muito pouca coisa foi acrescentada a mais. Caiado caiu como patinho, já que se comprometeu a contrapartidas como ajudar a liberar linhas de transmissão, como a Carajás, hoje paralisada diante de reclamações de moradores em regiões urbanas por onde passa, e até mesmo, pouco republicanamente, a esvaziar a CPI da Assembleia que investiga a Enel. Na edição desta segunda, 2 de setembro, O Popular mostra mais umas jogada da Enel dentro do tal acordo:  universalização da energia elétrica em Goiás estava prevista para 2019, mas o prazo, agora, foi ampliado em mais três anos (veja aqui, pode ser necessária senha de assinante). Uma vergonha. E bom para a Enel, que terá mais tempo para atingir uma meta que, antes do acordo, teria que ser cumprida ainda neste ano.

 

A imprensa em Goiás é acrítica. Engole sem questionar tudo que é vendido pelos canais oficiais. O acordo com a Enel não passou, até agora, por nenhuma avaliação crítica, exceto a deste blog. Podem apostar, amigas e amigos que acompanham a página: não foi um bom negócio para Goiás.