Transparência e ética no governo Caiado: muita conversa, pouca verdade. Corrupção na Codego foi escondida e varrida para debaixo do tapete. E há réus e enrolados em cargos de confiança do governador
Por mais de 20 anos, em uma produtiva carreira parlamentar, Ronaldo Caiado foi o paladino da ética e da moralidade no Congresso Nacional, respeitado nacionalmente. Mas bastaram oito meses em um mandato executivo, como governador de Goiás, para que aparecessem os pés de barro do ídolo. Se aplicado ao seu governo os critérios que ele mesmo passou a vida defendendo, Caiado receberia nota baixa.
O candidato que prometeu rigor absoluto quando a legalidade e honestidade dos atos e procedimentos da sua administração – e isso foi fundamental para dar a ele a votação recorde que recebeu – colocou réus em processos de corrupção em cargos estratégicos, inclusive do ponto de vista financeiro. Um exemplo é o presidente da Agehab, o ex-prefeito de Bela Vista Eurípedes José do Carmo, que responde a denúncias graves na Justiça, uma das quais, significativamente, por irregularidades praticadas na construção de casas populares na sua cidade – enquanto a Agehab é o órgão que cuida da política habitacional do governo do Estado.
No Conselho Estadual de Educação, Caiado extrapolou mais que qualquer um dos seus antecessores. Colocou lá, para supervisionar a Educação em Goiás, um ex-vereador de Crixás condenado a uma pena de mais de sete anos de prisão por peculato. E, pior esse conselheiro, William Machado, ganhou assento no CEE como representante oficial da Secretaria de Educação – mandando para a cucuia a Constituição Estadual, que não foi respeitada nem pela Assembleia Legislativa, onde o dito cujo foi aprovado com apenas um voto contrário (do deputado Lucas Calil).
Há outros casos. Agora mesmo, Caiado trouxe mais um desconhecido de fora para a presidência da Agência ABC, que cuida da televisão e emissoras de rádio estaduais, todas sem audiência nenhuma, que existem apenas para jogar dinheiro público pelo ralo. Trata-se do psicólogo José Roberto Borges da Rocha Leão, metido em um escandaloso esquema de fraude a licitações no INSS de Mato Grosso. Nada à toa, foram mais de R$ 100 milhões desviados por uma quadrilha que, além do atual gestor da Agência da ABC, contava com ex-governador Carlos Bezerra, do MDB (que foi presidente do INSS). É um exemplo e tanto, em termos de premiar malfeitos, que o governador está dando a Goiás.
Tem muito mais. Funcionários presos no passado por corrupção, dentro da Saneago, foram readmitidos pela atual gestão e só afastados depois de presos novamente, acusados de continuidade delitiva. Na Codego, a maior parte da diretoria nomeada por Caiado foi exonerada, por ele mesmo, assim que descoberto um foco de corrupção na estatal, abafado e em seguida varrido para debaixo do tapete, sem que uma palavra de esclarecimento fosse dada à sociedade. Ninguém sabe o que houve. O governador, candidamente, apenas disse que os diretores demitidos o foram porque “não estavam dando conta de resolver os problemas da empresa”. Vale lembrar, mais uma vez: não acreditem nessa conversa fiada, leitora e leitor.
Tudo isso – e, como dito acima, mais um pouco – seria grave, mas muito grave em qualquer governo. Qualquer um. No de Caiado, inconcebível. É ele quem, no final das contas, mancha a própria imagem com nódoas que em todo o seu passado amaldiçoou. Disse uma coisa, praticou outra. Ao avalizar enrolados e ao esconder rolos, tornou-se também corresponsável. Não é o Caiado de outrora.
Atualização: Um leitor acaba de entrar em contato para lembrar o caso do Ipasgo, onde o governo Caiado denunciou uma suposta fraude que poderia chegar a R$ 1 bilhão, mas que até agora não teve nenhuma comprovação. O que incomoda, nessa estória, é que a empresa acusada pelo próprio presidente do Ipasgo Sílvio Fernandes de estar por trás da maracutaia, a GT1 Tecnologia, foi recontratada por R$ 17 milhões, sem licitação, logo após revelado o suposto escândalo. Mais uma vez, Caiado não se pronunciou.