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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

24 set

Casuísmo da antecipação da eleição do próximo presidente da Assembleia, para garantir a continuidade de Lissauer Vieira, mina a confiança da sociedade no Legislativo como Poder da cidadania

Todos os papeis, imagens e o site da Assembleia trazem o brasão do Legislativo com o slogan, logo abaixo, “a casa é sua”, indicação de que se trataria de um Poder popular, comprometido com a população e com os direitos e deveres da cidadania em Goiás. Mas não é bem assim.

 

A última manobra em curso entre os 41 deputados estaduais mostra que a Casa, como costuma ser chamada, é muito mais voltada para os interesses corporativos dos seus integrantes e não hesita quando se trata de garantir mais e maiores benefícios para cada parlamentar. Trata-se da antecipação da eleição do próximo presidente, que só assume em 1º de fevereiro de 2021, portanto daqui a um ano e quatro meses. Podem apostar, leitora e leitor: isso nunca se viu antes nem em Goiás nem em qualquer Estado brasileiro. Daí, escolher um presidente, com tamanha antecedência, só pode ter a ver com a distribuição de vantagens inconfessáveis e com a transformação do Legislativo em um valhacouto onde os seus membros só querem privilégios pessoais.

 

O raciocínio é simples. A antecipação visa a cortar qualquer possibilidade de influência da base que o governador Ronaldo Caiado está consolidando na Assembleia no processo de escolha do próximo presidente e garantir que Lissauer Vieira seja reconduzido. Em troca, mais benesses (leia-se: cargos comissionados) serão atribuídas de imediato aos deputados para que aceitem o artifício sem contestações. Em vez de negociar e abocanhar regalias a mais daqui a um ano, em uma eventual disputa entre Lissauer e um hipotético candidato lançado pela base caiadista, os deputados vão fazê-lo agora, tratando com quem está com a caneta nas mãos, no caso o atual presidente. Ou seja: pretendem receber já uma fatura que só venceria em agosto, setembro de 2020.

 

Normal, se não se tratasse de um casuísmo de proporções descomunais, que vai consolidar a imagem da Assembleia como um Poder fisiológico, que cuida do próprio umbigo antes de olhar para as demandas da sociedade. E as atropela, se necessário for. É muito abuso, que pode levar até a manifestações de rua e a consequências imprevisíveis. Os senhores deputados estaduais estão brincando e colocando em xeque o mandato que receberam nas urnas. Que precisa, sim, ser dignificado e não emporcalhado.