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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

08 dez

O que o jornal O Popular trata pejorativamente como “ambulancioterapia” e condena, na verdade é o único direito que os mais pobres têm para conseguir acesso a tratamento médico especializado

Não é de hoje que o O Popular publica reportagens execrando a estratégia das prefeituras do interior ao colocar ambulâncias à disposição da população para transporte até Goiânia, com hospedagem em abrigos mantidos pelos municípios, visando a acessar tratamento médico geralmente especializado. É uma visão elitista e de certa forma cruel do jornal, já que se trata de uma solução – digamos assim – que corre atrás da natural hierarquização da medicina, não só em Goiás, mas em termos mundiais.

Fácil explicar. Atendimento de saúde em casos graves e específicos custam caro, exigem profissionais qualificados e exames de última geração – fatores que se subordinam às regras de mercado e dependem de procura para funcionar como negócio viável. Não é algo que pode ser encontrado por aí. Quem mora em um município pequeno não tem saída a não ser se deslocar para um outro maior e daí em diante ir atrás de núcleos urbanos mais estruturados e mais habitados que, em última análise, obedecem a uma escala planetária.

Essa realidade independe de categorias econômicas. Quem tem recursos, sai do interior e vai de carro para a capital atrás de atendimento médico que não existe nem nunca existirá em suas cidades. Quem mora na capital, podendo, busca socorro em São Paulo, em caso de doenças graves. E quem está lá, em circunstâncias especiais, vai para Nova Iorque ou Paris. Um circuito que não tem fim, mas vai na direção certa, que são os grandes centros. Pessoas carentes só se diferenciam das demais, nesse quesito, por não não ter como pagar as suas despesas – e por isso vão de âmbulância. No mais, são doentes que têm o direito de ser protegidos pelo Poder Público e por isso devem receber gratuitamente o traslado e a hospedagem enquanto se tratam.

Não há nem haverá um dia política de governo capaz de acabar com as necessárias e indispensáveis ambulâncias felizmente oferecidas pelas prefeituras., cuja frota em Goiás em boa hora está sendo reforçada pelas emendas impositivas dos deputados estaduais – sob as críticas injustas e desumanas de O Popular. O governador Ronaldo Caiado vai lançar, no começo do ano, um projeto inovador na forma, mas repetitivo no conteúdo, na medida em que tenta reeditar a fase dos hospitais regionais, que no passado não deram em nada: as policlínicas, que serão instaladas em regiões afastadas para tentar diminuir o fluxo para Goiânia, avalizadas pelo compromisso moral que o governador tem como médico e como político de trajetória ímpar. É válido e deve diminuir em alguma medida o tráfego de pacientes, mas é claro que as ambulâncias vão continuar cortando as rodovias rumo ao qualificado parque médico goianiense, dizem que, hoje, de referência nacional. O Popular deveria saber que, para quem não tem nada, isso pode ser tudo.