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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

09 dez

Fim de ano de Caiado: com o governo no azul, Estado continua no vermelho – e só a aprovação das reformas abrirá caminho para a conquista do modelo de equilíbrio entre receita e despesa

O governador Ronaldo Caiado conseguiu: o seu governo vive um momento em que as suas contas estão no azul, enquanto a situação financeira do Estado continua no vermelho. Não há nenhuma contradição nessa constatação, ao contrário do que supõem jornalistas e analistas que apontam para uma dúvida ou antinomia entre um quadro e outro. Caiado alcançou uma estabilidade momentânea graças a aportes vultosos que viabilizou para a sua gestão, como os mais de R$ 1,8 bilhão dos depósitos judiciais (na verdade, um empréstimo sem data de vencimento) e a suspensão do recolhimento mensal de cerca de R$ 250 milhões correspondentes às parcelas da dívida estadual, dinheiro que, assim, fica disponível nos cofres estaduais. Acrescente-se o aumento na arrecadação de ICMS, fruto da ação fiscalizadora da Secretaria da Economia e da reorganização fiscal iniciada neste ano.

Com esses e mais recursos que o governador está se mostrando extraordinariamente habilidoso em conseguir, como os R$ 185 milhões em verbas do leilão dos campos extras do pré-sal, que vêm vindo aí, houve uma estabilização financeira, ainda que provisória e sem sustentação a longo prazo, para o governo. Um dos sintomas mais fortes dessa nova realidade é a antecipação que vem sendo feita a cada mês da data de pagamento da folha de pessoal, que, relativamente a novembro, saiu no dia cinco e caminha para ser liquidada até o dia 30. O alívio, indiscutível, dá para o governador um fôlego para trabalhar politicamente nas reformas que estão na dependência de aprovação da Assembleia – e que são cruciais para o futuro do Estado.

É esse passo que pode resolver o desequilíbrio entre receita e despesa que Caiado herdou dos seus antecessores: mudar regras que perpetuam privilégios, tanto para o funcionalismo como, por exemplo, para os grandes empresários que têm indústrias instaladas no território goiano e usufruem de benesses tributárias imcompatíveis com uma economia moderna. Os projetos que estão se acumulando no Legislativo deixam claro que o governador tem a coragem necessária para assumir desgastes e fazer o que precisa ser feito, a despeito das reações localizadas e corporativas, em defesa dos interesses coletivos e não de grupo minoritários face aos sete milhões de goianas e goianos.

Quem olha só para a superfície enxerga o governo que Caiado tirou do buraco em seu primeiro ano de mandato, mas não vê que ainda não conseguiu resgatar um Estado que continua afundado em vícios estruturais, vícios que, a permanecer como estão, logo reaparecerão com as suas consequências deletérias – já que as causas obviamente persistem. O fim deste ano, para a administração estadual, é bem melhor que o apagar das luzes de 2018, quando ficou evidente que o novo governador estava prestes a ser obrigado a engolir um legado pernicioso de caos, desmazelo e, infelizmente, muita corrupção. O curto prazo vai bem. O longo é que é o problema.