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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

13 dez

O Jesus gay da Neflix e a reação dos evangélicos defendendo a censura: se Ele voltasse, ia preferir a companhia dos LBGTs e não de fariseus como Josué Gouveia, Pastor Jeferson e Glaustin Fokus

O deputado estadual Rafael Gouveia, do PP, que deve a sua eleição ao pai líder evangélico Josué Gouveia, finalmente arrumou um assunto para aparecer da tribuna da Assembleia: fez um discurso para repudiar a nova série da Netflix, realizada pelo grupo humorístico Porta dos Fundos, que apresenta Jesus como homossexual – o que, segundo o jovem parlamentar, seria inaceitável.

Para ele, talvez. E para o deputado pastor Jeferson, do PRB, que o seguiu na tribuna, também. E ainda para o deputado federal Glaustin Fokus, que protocolou um requerimento na Câmara Federal exigindo que a Netflix abra os critérios mediante os quais seleciona títulos para exibição. Em resumo, foram muitos os deputados que, pelo Brasil afora, ecoaram uma farisaica repulsa contra a plataforma de streaming, propondo desde um boicote por parte dos assinantes até mesmo uma censura pura e simples capaz de impedir que programas como o especial de Natal do Porta dos Fundos fosse reproduzido.

Quem esse pessoal pensa que é? Pode conferir, leitora e leitor: Jesus, quando andou sobre a terra, preferia a companhia de ladrões, prostitutas e coletores de impostos, gente muito mal vista pela sociedade daquela época. Fossem enviados para dois mil e cento e poucos anos atrás, os rafaéis gouveias, pastores jefersons e glaustins fokus, como aqueles que simbolizaram a autoridade política da velha Palestina, jamais conseguiriam se aproximar do Filho de Deus. Nas escassas oportunidades que tivessem, seriam renegados ou até mesmo chicoteados, conforme documentam os evangelhos em relação aos seus iguais daque momento histórico.

Não há notícia documentada de gays nos tempos de Jesus. Provavelmente, existiam, mas sem espaço para aparecer socialmente, como hoje. De toda forma, é certo que, se os houvessem, eles estariam entre a trupe de marginalizados e escorraçados que seguiam o Divino Mestre. Teriam lugar assegurado até mesmo entre os 12 apostólos, já que Cristo, grande apreciador de vinhos e festas, ostensivamente priorizava os excluídos e os pisados em detrimento dos privilegiados e dos bem posicionados, dos ricos e dos situados nos extratos superiores. Os pobres, os infelizes, os errantes, os depossuídos, esses, sim, foram os bem-aventurados que Jesus queria ao seu lado nos céus, como prometeu ao ladrão pendurado ao seu lado na cruz, que até virou santo da Igreja Católica – São Dimas. Nossos deputados, preconceituosos e retrógrados, até poderiam receber o perdão, mas jamais seriam chamados para se sentar junto a quem tinha um espírito tão aberto para toda a humanidade.