Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

02 jan

Com exceção de Jânio Darrot, ninguém defende Marconi: onde estão Zé Eliton, Vecci, José Carlos Siqueira, Raquel Teixeira, Leonardo Vilela ou Jaime Rincón? E tantos beneficiários dos seus governos?

O ano novo começou com o prefeito de Trindade e presidente estadual do PSDB Jânio Darrot premiado com um espaço privilegiado na página 2 de O Popular, na edição de 1º de janeiro, que aproveita para defender o ex-governador Marconi Perillo e sua política de incentivos fiscais. É meio esdrúxulo, mas quem conhece os desígnios editoriais do jornal da família Câmara sabe que são cada vez mais inexplicáveis as suas pautas depois que portentos intelectuais como João Unes ou Cileide Alves deixaram a sua editoria geral.

Anotem aí, leitora e leitor: se Jânio Darrot estivesse advogando a favor do governador Ronaldo Caiado, o seu artigo jamais teria sido publicado. Justiça se faça: da mesma forma, se fosse na época em que Marconi chefiava o governo, também não o seria. O Popular tem uma relação distorcida com o poder, cujas verbas publicitárias adora, mas oferecendo em troca uma isenção caolha e torta, que os seus pobres jornalistas – aguardando cada um a demissão que pode sobreviver a qualquer momento – identificam como liberdade de expressão.

Não importa. O Popular está agonizando, assim como toda a imprensa em papel em Goiás e no mundo. Diminuiu de tamanho e agora humilhou-se com a supressão da edição dominical, seu antigo carro chefe. Mas vamos ao que importa: o artigo de Jânio Darrot, sem sentido, demonstra o quão equivocados continuam a viver os tucanos estaduais. Os poucos que restaram na ativa acham que podem salvaguardar o que foram as gestões de Marconi com palavras de ordem e chavões vazios. É um erro que só agrava a imagem cada vez mais deteriorada que se está construindo do passado recente em Goiás. Ninguém conseguirá jamais justificar as administrações do PSDB com argumentos políticos de segunda linha, que só enfatizam as oportunidades perdidas nos últimos 20 anos. São indispensáveis números, dados e raciocínios, que, no entanto, não aparecem.

Marconi poderia deter a desconstrução do que imagina ser o seu legado se tivesse ao seu lado vozes gabaritadas para postular tecnicamente a possível excelência, ao menos parcial, dos seus governos. Mas não as há. Os tecnocratas que se fartaram com os cargos mais importantes de Goiás, durante duas décadas, não se atrevem agora a retribuir as benesses recebidas com a coragem de interceder pelo chefe que tratavam como um semideus. Não abrem a boca. Onde está, por exemplo, Giuseppe Vecci, que teve tudo, até um mandato de deputado federal sem pé nem cabeça, doado por Marconi, que ele não foi capaz de honrar, concluindo-o com uma soma zero a favor de Goiás? Cadê José Carlos Siqueira, que passou arrogantemente por todas, sim, simplesmente por todas as funções de influência da era tucana? Cadê José Eliton, agraciado com a chance desperdiçada de disputar uma eleição como representante da máquina de governo? Ou a professora Raquel Teixeira? Ou João Furtado? Ou o multidisciplinar Leonardo Vilela? Ou Jayme Rincón, que só se preocupa com a extinta Agetop e não menciona o nome de Marconi e até o critica? Por onde andam todos eles? E muitos outros? Por que, enfim, não têm nada a dizer em defesa do seu ex-líder e de tudo o que foi feito no regime recentemente encerrado?

Jânio Darrot prega solitário no deserto tentando salvar o que imagina a era de ouro do desenvolvimento estadual. Embora ingenuamente, é um exemplo de lealdade e fidelidade, que a legião de beneficiados por Marconi ignora solenemente, como se não tivesse nada a ver com os equívocos que levaram à pesada herança recebida pelo governador Ronaldo Caiado. É essa a lição pessoal e política que ficou dos anos tucanos em Goiás: ninguém deve nada a ninguém, com exceção de Jânio Darrot. Marconi está sozinho. Ele que se dane.