Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

08 jan

Sem convicções, a não ser gozar do mandato para proveito pessoal e da família, deputado Humberto Teófilo quis fazer média com o funcionalismo que não representa e pagou o preço da desmoralização

O deputado estadual “delegado” Humberto Teófilo faz hoje em Goiás o triste papel de cachorro que caiu do caminhão de mudança e não sabe que rumo tomar. Perdido, esforça-se para justificar e dar grandeza aos votos que proferiu na Assembleia contra os projetos reformistas do governador Ronaldo Caiado que alteraram as regras da previdência dos servidores e dos estatutos do funcionalismo e do magistério, colocando fim a privilégios históricos e abrindo caminho para a superação da crise fiscal do Estado – com prejuízos para pequenos segmentos, mas benefícios para o imenso contingente de sete milhões de goianas e goianos.

É deplorável, na política, quando alguém tenta representar um papel no qual não cabe. Humberto Teófilo foi eleito acidentalmente, sem bases representativas, e provavelmente não voltará à Assembleia depois do pleito de 2022. Trabalhando como delegado de polícia em Inhumas, polarizou fortemente com os políticos locais, como o ex-deputado José Essado, e o deputado Lucas Calil, atraindo 10 mil votosao pegar carona no fenômeno Jair Bolsonaro – disputou pelo PSL, na época o partido do atual presidente – e com isso garantindo um mandato em que nem ele mesmo acreditava. Na Assembleia, é assim mesmo: toda legislatura inclui parlamentares guindados graças a fenômenos momentâneos e localizados, como é o caso desse deputado, que se extinguem no exercício de apenas um mandato.

Mas, ao votar contra as reformas, ele cometeu o equívoco de achar que poderia tapear o governador Ronaldo Caiado, fazendo média com o funcionalismo – do qual está longe de seralgum tipo de liderança – e posar de mocinho para a mídia, o que o levou a fazer discursos desconexos (não sabe se expressar bem) com apelo a palavras e frases radicais. Só que levou um susto: Caiado reagiu com uma firmeza que os seus antecessores nunca exibiram, exonerando todos os aliados que Humberto Teófilo havia fisiologicamente indicado para o governo, entre os quais, descobriu-se, havia até um irmão, nomeado para uma cargo de direção na Secretaria de Esportes & Lazer. Sim, leitora e leitor, ele usou o mandato para privilegiar seus parentes, desmentindo as alegações dele próprio de que seria um representante da “nova política” (marketing que o ajudou a se eleger).

Sem saber como reagir, o delegado acabou remetido para um limbo: está hoje rejeitado tanto pela base governista como pela oposição, que, nas palavras do deputado tucano Talles Barreto, comparou a sua autenticidade política e ideológica a uma nota de R$ 3 reais – metáfora de um acerto como poucas vezes se viu antes. Malandramente, dá declarações dizendo-se admirador de Caiado e disposto a continuar votando a favor do governo, na esperança de reabrir as portas que levam às páginas do Diário Oficial. Não percebe, por falta de conteúdo intelectual para isso, que está apenas prolongando o vexame que protagonizou ao assumir posições para as quais não tinha preparo para defender ou sustentar. Pode apostar, leitor: se Caiado quiser, basta estalar os dedos e Humberto Teófilo estará onde receber ordens para estar.