Atendente de posto de saúde que morreu foi vítima do descaso e da negligência da prefeitura de Goiânia, assim como podem vir a ser seus colegas e os trabalhadores do setor de lixo
Parece claro que a morte da técnica de enfermagem e laboratório Adelita Ribeiro, vítima do coronavírus em Goiás, tem a ver com a omissão e o despreparo da prefeitura de Goiânia em relação às instalações, equipamentos e cuidados preventivos que deveriam ser dispensados aos seus prorissionais e trabalhadores que atuam nas frentes de contato com a população e atividades que ainda se mantêm na capital, mesmo com a quarentena – atendentes dos postos de saúde e lixeiros, dentre outros.
Qualquer leitora e qualquer leitor pode observar, nas ruas, que os vassoureiros e recolhedores de lixos estão atuando apenas com as suas desgastadas e costumeiras roupas de serviço. Não receberam álcool gel, óculos, luvas descartáveis (as de material nitrílico não se rasgam facilmente) e muito menos máscaras de proteção. A Comurg, quase que cometendo um crime, comunicou que todos estão tendo acesso a desinfentantes adequados (como o álcool gel), à disposição ao lados dos relógios onde assinam os pontos de entrada e saída. E só. Isso é um abuso, um ato anti-humanitário, um tipo de crime, muito próximo da exposição deliberada dessas equipes de operários ao contágio, pelo que os dirigentes municipais do setor deveriam ser responsabilizados por não cumprirem a obrigação de salvaguardar seus servidores – que entram em contato com o mais tóxicos dos detritos em circulação em Goiânia.
Mas o Ministério Público, a quem caberia a defesa desses segmentos que são obrigados a sair para trabalhar todo dia, está omisso, não cumpre o seu dever fiscalizatório e desde a chegada da pandemia a Goiás sem se esmerando em distribuir “recomendações” inócuas e sem nenhum valor impositivo. Atenção: na prefeitura de Goiânia, não são apenas os lixeiros que foram jogados ao léu. Os funcionários dos postos de saúde (assim denominados todos os prédios onde se presta algum tipo de atendimento médico – e são mais de 100) também estão largados. Nenhuma unidade passou ou está passando por processos de desinfecção. Adelita Ribeiro também prestava sua colaboração em uma delas, a do Jardim Novo Mundo – que, vejam bem, esse detalhe é da maior importância, só após a sua morte foi alvo de procedimentos de profilaxia e, conforme as palavras da própria secretária municipal da Saúde Fátima Mrué, é e será a única a ser submetido a esse tipo de atenção. Todas as demais prosseguem como estavam antes do início da pandemia.
A jovem enfermeira (vamos chamá-la assim) que morreu pelo coronavírus pode ter sido vítima de todo esse descaso da prefeitura de Goiânia, que este blog não tem a menor dúvida em declarar como 100% abaixo do que deveria fazer para atender a população que governa. Não foi solidária nem com as milhares de crianças que frequentavam os CMEIs, hoje fechados, e ficaram sem a merenda – o governador Ronaldo Caiado resolveu o problema nas escolas estaduais pagando uma diária de R$ 5 reais aos alunos necessitados, assim como fizeram prefeitos como Jânio Darrot, em Trindade, ou o de Aparecida (onde Gustavo Mendanha acaba de reassumir anunciando que a prioridade é a luta contra o coronavírus e o apoio às aparecidenses e aos aparecidenses). O prefeito Iris Rezende também não deu nenhum refresco para o pagamento dos tributos municipais, alegando viver uma situação financeira difícil que, um mês atrás, celebrada como “uma das capitais brasileiras em melhor condição fiscal”. Sem trocadilho, nosso alcaide lavou as mãos.
Outras mortes virão porque a irresponsabilidade e o desleixo de quem tem atribuições coletivas, em um momento como o atual, sempre cobram um preço. Em vez de entregar a proteção às goianienses e aos goianienses a Deus, como disse, Iris deveria é se desincumbir do que lhe cabe na luta contra o coronavírus.