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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

09 abr

Insensível e omissa, Prefeitura de Goiânia anuncia apoio para moradores de rua durante a crise do coronavírus, mas… só depois de ser obrigada por decisão judicial

O noticiário está repleto, nesta quinta, 9 de abril, de releases da prefeitura de Goiânia informando que, magnanimamente, diante da crise do novo coronavírus, resolveu disponibilizar um esquema de apoio aos moradores de rua, basicamente oferecendo 50 barracas e 50 colchonetes que desabrigados possam ser acolhidos em dois pontos: o Cepal do Setor Sul e Mercado Aberto da Avenida Paranaíba, já habitualmente frequentado por essas pessoas. Além disso, e anotem bem leitoras e leitores, porque voltaremos a esse ponto mais adiante neste texto, a prefeitura anuncia que também criou um banco de doações para que a população possa doar roupas, calçados, alimentos não perecíveis e produtos de higiene, para destinação aos sem teto da capital.

Efusivamente, os textos distribuídos pela comunicação oficial de Iris Rezende garantem que “a prefeitura de Goiânia está trabalhando para garantir o abrigo e condições adequadas de higiene para as pessoas que vivem em condições sociais fragilizadas”. Bonito? É. Mas, na verdade, uma grande mentira. Iris e a sua equipe, que nunca foram de gastar dinheiro com ações sociais, só tomaram essas providências porque foram obrigados por uma decisão judicial. Isso mesmo: o juiz André Reis Lacerda atendeu a um pedido da Defensoria Pública de Goiás para forçar o Paço Municipal a disponibilizar algum tipo de apoio humanitário aos moradores de rua da capital, no prazo de 48 horas (decisão exarada no dia 29, que a prefeitura só veio a cumprir nesta quinta, 9 de abril, portanto desrespeitando o estabelecido pelo magistrado), sob pena de multa diária de R$ 5 mil. Para o juiz, “as pessoas em vulnerabilidade social estão no grupo de risco de contaminação do coronavírus por viverem nas ruas”, o que é óbvio, mas não para Iris e seus auxiliares. Em que mundo essa gente vive, ao imaginar que 50 barracas e 50 colchonetes, que representam um gawsto de R$ 5, 6 mil reais, quando muito, podem ajudar ou apoiar quem quer que seja?

Nenhum prefeito de capital tem sido tão omisso com a situação de emergência sanitária, social e econômica criada pela chegada da Covid-19 do que o atual prefeito de Goiânia. Em termos financeiros, ele não gastou um centavo até agora, reservando todos os milionários recursos do seu tesouro para o andamento das suas obras, sem uma concessão qualquer para a solidariedade que todos os poderes públicas devem às cidadãs e cidadãos neste momento. Vejam bem: os moradores de rua só receberam 50 barracas e 50 colchonetes e nada mais, nem um prato de sopa quente no fim do dia, porque o Poder Judiciário assim determinou (e parece que a prefeitura fraudou a ordem do juiz, porque, por exemplo, não disponibilizou equipamentos de higiene, como expressamente citado na decisão). Se assim não fosse, eles continuariam ao léu, como sempre estiveram pelas vias públicas da capital. Aliás, continuam.

Quem conhece bem Iris sabe que ele é um político e um administrador frio e insensível. Não se comove com dramas pessoais ou sociais. Só pensa em obras, campo no qual sempre se saiu bem, porém nunca foi testado em condições de calamidade pública como o que ocorre. Lavou as mãos nesta crise do coronavírus ao, messianicamente, declarar que “Goiânia é uma cidade protegida por Deus”. Não fez e não faz nada por ninguém, ao contrário dos prefeitos de cidades vizinhas e bem menos aquinhoadas em matéria de caixa, como Aparecida e Trindade. Quem deve resolver, segundo a prefeitura, é a própria população, como no caso das doações que a prefeitura espera receber para repassar aos moradores de rua. Isso é um absurdo, um crime. Para Iris, desde que consiga inaugurar os seus viadutos, a população que se dane.