Doações da FIEG, instituição que representa mais de 30% do PIB goiano, correspondem a uma ninharia e são uma vergonha para o grande empresariado, que poderia contribuir com muito mais
A Federação das Indústrias do Estado de Goiás – FIEG, instituição que representa o grande empresariado de Goiás e fala e atua em nome de mais de 30% do PIB estadual, está alardeando em releases o seu papel humanitário ao coletar doações em alimentos entre os seus associados e repassá-las a igrejas, entidades filantrópicas e mesmo, diretamente, famílias necessitadas. Parece bonito, no papel, mas na verdade o que se tem é uma farsa ou, em outras palavras, a comprovação de que os supercapitalistas goianos são egoístas, não gastam dinheiro algum para apoiar o próximo e preferem defender seus lucros a qualquer custo – inclusive lançando mão do dinheiro público, já que embolsam, anualmente, entre R$ 8 e 12 bilhões de reais em ICMS que deixam de pagar graças aos criminosos incentivos fiscais de que são beneficiários (alto fartamente demonstrado pela CPI dos Incentivos Fiscais da Assembleia).
Vejam o tamanho da piada protagonizada pela FIEG, leitora e leitor: a corporação faz um carnaval publicitário nesta segunda, 13 de abril, para anunciar a entrega de “meia tonelada” de comida para a população desabastada. Meia tonelada é o mesmo que 500 quilos e 500 quilos de alimentos podem ser comprados em qualquer supermercado, a preços de varejo, por R 10 a 20 mil reais, dependendo dos itens. No caso de arroz, por exemplo, seriam 100 pacotes de 5 quilos, a R$ 12 a 16 reais cada um (o mais caro é o do Arroz Cristal, que subiu mais de 30% com a chegada da pandemia a Goiás), o que totalizaria entre R$ 12 a 16 mil reais. Uma ninharia, portanto. Coisa que um magnata da indústria goiana gasta por mês com a manutenção de um avião particular (sem falar nos que têm jatinho, que exigem um dispêndio muito maior) ou com os gastos de casas em Goiânia e em Paris, caso do presidente da FIEG, Sandro Mabel(foto acima), que tem apartamento na capital francesa.
O Banco Itaú acaba de anunciar a doação de R$ 1 bilhão de reais para as ações contra o coronavírus, que serão coordenadas por um comitê de médicos e cientistas renomados escolhidos para direcionar a aplicação do dinheiro. Esse é um ato que importa e que corresponde a uma consciência dos donos do banco sobre o papel social e solidário que devem ter em relação a sociedade em que atua e fatura os seus lucros. Não há nada nem remotamente parecido em Goiás, apesar das exceções do setor alcooleiro, que desde o começo da pandemia em Goiás está colaborando e, sem alarde, já repassou milhões em litros de álcool gel para prefeituras e o governo do Estado, ou ações, aqui e ali, como a do Grupo Novo Mundo, que doou 500 colchões para os hospitais estaduais. Registrem-se manifestações de generosidade entre os nossos capitães da indústrias e do comércio, sim, mas isoladas e sem maior abrangência.
Distribuir 500 quilos de alimentos, ou “meia tonelada” (que soa mais robusto), mesmo pela terceira vez em poucas semanas, como informa a sua propaganda, é muito pouco para uma organização como a FIEG, que tem nos seus quadros duas ou três centenas de milionários – alguns bilionários. Mas a verdade é que eles se recusam a qualquer tipo de solidariedade, preferindo se esconder atrás da conduta banana da associação que criaram e mantêm para a defesa dos seus interesses. Repetindo, amigas e amigas: a defesa dos seus interesses. O resto que se dane.