Vanderlan atua contra o socorro federal aos Estados e municípios mirando 2022 e também para atender aos irmãos Flávio e Eduardo Bolsonaro, dos quais se transformou em braço no Congresso
Não é técnica nem baseada em qualquer critério de interesse público a resistência do senador Vanderlan Cardoso ao projeto, aprovado por esmagadora maioria pela Câmara (431 votos a 70), que estabelece um programa de apoio financeiro da União aos Estados e municípios. É triste, mas a verdade é que Vanderlan se alinhou contra por pura politicagem, sob a inacreditável desculpa de que não foram fixadas contrapartidas. Em primeiro lugar, ele tem o olho grande em uma candidatura ao governo de Goiás em 2022, o que implica na expectativa de um sucesso administrativo do governador Ronaldo Caiado. Depois, em razão do novo papel que assumiu no Congresso como braço dos irmãos Flávio, este senador, e Eduardo Bolsonaro, este deputado federal, dos quais o empresário goiano se tornou íntimo nos últimos tempos, com reuniões quase que diárias entre os três quando estão em Brasília (na foto acima, aparece com Eduardo, de quem curiosamente é mais próximo do que com o colega de mandato Flávio; detalhe importante: Eduardo é o mais tosco dos três).
Todas as declarações do senador goiano, neste ano, mostram perfilamento automático com tudo o que os Bolsonaros defendem, desde o relaxamento do isolamento social para tentar uma retomada da economia diante do novo coronavírus, até a confrontação com alguns governadores (não à toa, Vanderlan criticou com dureza o rompimento entre Ronaldo Caiado e o presidente Jair Bolsonaro, que definiu como “prejudicial a Goiás”). É sabido que a família presidencial é contra qualquer amparo financeiro mais significativo aos Estados, em especial no caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás, para evitar que João Dória, Wilson Witzel e Caiado se fortaleçam e consigam sair da crise da pandemia sem desgastes administrativos, já que foram definidos como inimigos políticos. Isso caiu como uma luva para os interesses de Vanderlan em Goiás, mas não só.
Há muito mais por trás de tudo isso. Por exemplo, um ministério qualquer. Homem de vocação executiva e sem traquejo ou jeito para o exercício parlamentar, ele pode acabar levado pelos irmãos Bolsonaro para uma vaga na Esplanada, como retribuição para a sua fidelidade no Senado e no jogo político. Seria a realização de um sonho. Vanderlan acha que o métier da sua vida é o gerenciamento, a administração, a capacidade de decisão, o que o fez bem sucedido como empresário e, tem certeza, o fará novamente, quando tiver a oportunidade certa, um caso de êxito na gestão pública (repetindo em escala maior o que acredita ter feito como prefeito de Senador Canedo). Os Bolsonaro, hoje, são o caminho mais curto para esse objetivo.
Esse raciocínio explica a ousadia do senador em assumir a contestação do projeto de ajuda aos Estados e municípios, especialmente tendo em vista os últimos. Sabotar, atrasar ou até mesmo inviabilizar o aporte de dinheiro federal para as 246 prefeituras goianas é quase um ato de suicídio político, já que estimula, contra, uma base política espalhada por todo o Estado. Mesmo diante desse cálculo, Vanderlan não hesitou e, prestem atenção, leitoras e leitores, provavelmente não recuará, insistindo até o fim na intenção de emendar a matéria com a fixação de contrapartidas que em última análise só terão o efeito de atrapalhar os governadores e os prefeitos – porque essa é a estratégia presidencial.
Uma última lembrança: a jornalista Tainá Borela foi a única, em seu blog no portal Mais Goiás, a perceber o aconchego entre Vanderlan e os dois Bolsonaro, Flávio e Eduardo. Em nota no início deste mês, Tainá Borela registrou postagens dos irmãos replicando críticas do senador às medidas de restrição à circulação de pessoas adotadas por Caiado, além de observar também que o tom das redes sociais de Vanderlan passou a copiar a linguagem do bolsonarismo radical. Ela disse que Vanderlan estaria hoje no papel de “conselheiro” de Flávio e Eduardo. Não é bem assim. Ele se transformou em preposto deles.