Com raríssimas exceções, elite econômica de Goiás está de costas viradas para os segmentos da população que necessitam de ajuda e não é capaz de abrir os cofres para a solidariedade
A elite econômica de Goiás é uma das piores do Brasil. Enquanto em outros Estados registram-se exemplos de doações que realmente representam um reforço para o enfrentamento do coronavírus, especialmente no que diz respeito a amparar os segmentos mais desassistidos da população, o que se tem estadualmente são números que deveriam envergonhar o grande empresariado, os agropecuaristas de maior porte e, enfim, os donos da maioria fatia do PIB goiano.
Não há nada de impactante produzido até agora pelo que poderia ser chamado de inexistente generosidade dos supercapitalistas que ganham dinheiro em Goiás, quase todos beneficiados, nas últimas décadas, por drásticas reduções dos impostos que deveriam recolher aos cofres do governo do Estado por conta da farra dos incentivos fiscais – que foi desnudada pelo relatório de uma CPI da Assembleia Legislativa encerrada há pouco. A cada ano – e foram muitos – entre R$ 8 e 12 bilhões em recursos públicos ficaram retidos no caixa de 534 grandes empresas instaladas em território goiano, uma conta que o Ministério Público Estadual estimou de maneira conservadora em R$ 250 bilhões de reais.
Nem uma ínfima parte disso está sendo agora devolvida para as faixas desabastadas da população, em um momento de premência. A FIEG, que representa a nata desses milionários e até bilionários, tem feito alarde para propagandear a ridícula doação de 1.500 quilos de alimentos a instituições de caridade. Isso, leitora e leitor, é o mesmo que nada. Não é nem a gota que Madre Teresa de Calcutá disse que tornaria o oceano maior. Na verdade, está claro que não passa de uma demonstração de egoísmo e insensibilidade, em um momento em que a humanidade – e a sua parcela fixada em Goiás – enfrenta uma tragédia jamais vista antes.
Como está dito no título desta nota, há exceções, infelizmente raríssimas. Empresas gigantes de comunicação, como o Grupo Jaime Câmara, a TV Serradourada e a Rede Record, enviaram caminhões com toneladas de cestas básicas para a OVG repassar aos pobres. O setor usineiro está ajudando continuamente com álcool em gel grátis para os hospitais públicos e prefeituras. Laticínios já doaram mais de 200 mil litros de leite ou mais. O Grupo Novo Mundo deu 500 colchões para as unidades estaduais e municipais de Saúde. E mais alguns, como os R$ 500 mil em dinheiro doados por uma indústria dirigida por Sandro Scodro, filho do presidente da FIEG Sandro Mabel. Só que, no final das contas, somando-se tudo, é coisa para ser relacionada em uma folha de papel. Infelizmente, uma ninharia perto do que a situação de emergência sanitária, social e econômica está a exigir.
Grande empresário, em Goiás, acha que faz o favor de gerar empregos e que isso é suficiente, esquecendo-se de que está apenas aparelhando a sua produção. Recusa-se a se responsabilizar pelos custos do jardim público à frente do seu negócio. E não abre mão do dinheiro público, sob o disfarce já desmascarado dos incentivos fiscais. É o que temos, amigas e amigos. A elite econômica estadual é uma lástima e está se comportando pior do que nunca diante da crise do coronavírus.