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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

01 maio

Ajuda federal para combater o coronavírus é ridícula – e, no caso de Goiás, omissão dos nossos 3 senadores prejudica o Estado e mostra que não temos representantes à altura em Brasília

As leitoras e os leitores sabem que, confrontada com uma pergunta sobre o que fazem ou para que servem os três representantes de Goiás no Senado, 99,9% da população responderá dizendo que não sabe e não tem a menor noção. Na situação de emergência sanitária, social e econômica que se seguiu á chegada do novo coronavírus, pior ainda. Jorge Kajuru, Luiz do Carmo e Vanderlan Cardoso deveriam se preocupar com a falta de conhecimento das goianas e goianos sobre o seu trabalho e procurar prestar algum tipo de contas às eleitoras e aos eleitores que doaram a eles as cadeiras que ocupam na mais alta Câmara Legislativa, mas o xis da questão é que… os três também não sabem o que fazem lá.

O Senado Federal é o sonho de consumo de todos os políticos brasileiros e, no final das contas, uma láurea reservada a pouquíssimos. O que se ignora é que é o mandato popular de maior dificuldade para o seu exercício. Não é fácil ser senador e, pelo menos quanto a Goiás, a maioria dos que o foram passaram por lá em brancas nuvens, exatamente por não entender o sentido e a mecânica da delegação senatorial. São raríssimos os que deixaram algum legado – e entre as exceções estão Henrique Santillo, pelo seu lastro intelectual, e Ronaldo Caiado, face à sua enorme experiência como congressista, ambos coincidentemente com mandatos de apenas 4 anos, já que renunciaram na metade para disputar e ganhar o governo do Estado.

A tríade atual é uma das mais fracas da história. De Kajuru, não se pode exigir mais que o comedimento que assumiu de certo tempo para cá, conscientizando-se, finalmente, de que o palco que ganhou não é lugar para truanices e que, diante das responsabilidades que foram jogadas sobre as suas costas, não poderia se prestar ao papel de rei momo da política nacional. Aquietou-se e isso já está bom, por livrar Goiás momentaneamente do vexame das suas costumeiras patuscadas. O seguinte é Luiz Carlos do Carmo, provavelmente boa pessoa, mas sem condição nenhuma de ser mais que um vereador de interior que, de repente, ganha acidentalmente um assento no plenário parlamentar mais distinto do país, para o qual sequer foi eleito – culpa, em parte, de quem, Ronaldo Caiado, o escolheu para a uma suplência para a qual sequer tinha qualificação para assenhorear-se.

O último da trinca é o empresário Vanderlan Cardoso, que se imagina equivocadamente ser o mais preparado. Não é. Mede-se a capacidade e a excelência de um detentor de mandato legislativo pelos resultados que produz e pelo que significa no contexto da sociedade da qual é uma espécie de procurador. Essa é a única régua possível e, por ela, Vanderlan é tão ineficiente quanto Kajuru e Luiz do Carmo, mesmo porque todos carregam a mesma característica comum: são figuras individuais momentaneamente circulando pela política, sem a imprescindívelo organicidade que faz os grandes líderes da história. Nenhum rendeu nada de positivo até agora, a não ser bobagens como a destinação de emendas orçamentárias para entidades e municípios – como se fossem despachantes de luxo dos prefeitos na capital federal, estratégia, aliás, que liquidou o mandato da ex-senador Lúcia Vânia ao torná-lo irrelevante diante dos verdadeiros desafios e demandas do povo de Goiás.

A consequência disso tudo é que o Estado não tem defensores adequados em Brasília (vamos deixar para depois uma avaliação sobre o trabalho dos 17 deputados federais, que também é fraco). O Senado, nesses dias de pandemia, está decidindo sobre a ajuda federal aos governadores e prefeitos, crucial em tempos de queda de receita tributária, por um lado, e aumento das despesas com a Saúde, por outro. Até agora, o que se produziu é um projeto que prejudica Goiás, que, pelo texto a caminho de ser aprovado, sob o silêncio obsequioso de Kajuru, Carmo e Vanderlan, terá direito a uma ninharia, algo abaixo de R$ 1 bilhão, graças a critérios injustos que estão sendo impostos por senadores mais articulados a favor das suas regiões de origem (São Paulo, Minas e Rio ficarão com quase 40% dos recursos).

Menos dinheiro para combater a peste e manter os serviços públicos essenciais. Esse é o preço que as goianas e os goianos vão pagar pela fragilidade dos seus representantes no Senado e pela moleza com que eles exercem seus mandatos. Caiado está esperneando, mas, sozinho, provavelmente não vai chegar a lugar nenhum, apesar do seu peso político peculiar, muito maior que o da tróica senatorial goiana. Vamos perder e não será pouco.