Iris passa a sinalizar que não será candidato, mas não porque não quer e sim porque foi tomado pelo medo da repercussão negativa do fracasso do seu cronograma de obras para este ano
Como fez em todo o seu mais de meio século de carreira política, o prefeito de Goiânia Iris Rezende mais uma vez investiu no samba de uma nota só de uma gestão exclusivamente baseada em obras de infraestrutura – e, navegando em águas tranquilas a partir da suposta recuperação fiscal do município, imaginou que a sua reeleição para mais um mandato seria como atravessar um mar de rosas e também uma exigência da maioria das goianienses e dos goianienses. Tudo muito, mas muito fácil, até que…
…até que a realidade mostrou que tudo, na atual passagem de Iris pela prefeitura, havia sido superestimado. Por um lado, chegou a pandemia do coronavírus, trazendo um quadro de dificuldades que, mesmo do alto da sua experiência gerencial, Iris não esperava e ao qual simplesmente não soube como reagir. Por outro lado, a administração de um extenso e ousado leque de obras mostrou-se muito mais complicada e custosa do que se previa, a ponto de, hoje, ser pacífico que mais de 50% dos viadutos, do asfalto novo ou recuperado e das construções não mais será entregue nos prazos anunciados, ainda que as eleições venham a ser adiadas. Essa é a verdadeira razão da amargura que ostensivamente passou a ser exibida pelo prefeito e tem permeado, para um bom entendendor, todas as suas declarações recentes.
A peste jogou por terra a fantasia de uma prefeitura reorganizada financeiramente e em ótima situação quanto ao seu caixa, que Iris e seus auxiliares apregoavam aos quatro ventos até o primeiro paciente da Covid-19 ser internado em Goiânia. De um dia para o outro, todos, tanto o prefeito quanto a sua equipe, passaram a falar em um cenário de finanças complicadas e perto do colapso, motivo, aliás, alegado pelo Paço Municipal para não investir um centavo em qualquer proposta ou ideia de apoio à população, mesmo a carente, a não ser algumas barracas e cobertores para os sem teto que vivem nas ruas e ainda assim obedecendo a uma decisão judicial. As mais de 100 mil crianças matriculadas nos CMEIs e centros educativos foram largadas sem merenda escolar desde o dia em que as unidades foram fechadas para obedecer à quarentena, mal atendidas por um arremedo de programa emergencial que recolheu sobras de alimentos já adquiridos e estocados nas escolas e recorreu aos pífios recursos de um fundo federal para montar kits fajutos que estão sendo entregues às famílias dos alunos a passo de cágado. Um vexame.
Para piorar, Iris entrou na Justiça para suspender o pagamento das parcelas de financiamentos contraídos junto a Caixa Federal e ganhou seis meses de prazo. Aparentemente, uma boa notícia. Só que isso implicou na suspensão dos repasses referentes celebrado empréstimo de R$ 780 milhões, obtido junto à mesma instituição, que foi dividido em seis repasses trimestrais, dos quais só um entrou. Em um zás-trás, o dinheiro que garantiria a folga para gastar com as dezenas de obras em andamento simplesmente desapareceu. Isso, somado à queda da arrecadação provocada pela redução das atividades econômicas e a inadimplência que sobreveio, e ainda considerando-se as adversidades que as empreiteiras passaram a enfrentar, indo desde a aquisição de insumos e contratação de máquinas até a mobilidade dos seus operários, acabou tornando inevitável o atraso, e grande, do calendário inicialmente estabelecido, ou seja: neste ano, muito do que foi prometido não será concluído.
Politicamente falando, Iris levou um tiro no coração. Sua retórica tornou-se vazia, desconectada do mundo real, o que torna impressionante a imagem de isolamento retratada em uma foto distribuída pela sua própria assessoria de comunicação, sozinho, cabisbaixo, caminhando ao longo de um trecho de rua com a pavimentação em reforma, porém sem ninguém trabalhando ou qualquer serviço sendo executado(veja acima). É quase um adeus. Ou a despedida de um modelo de homem público que se tornou fora de moda, ainda mais diante da incapacidade demonstrada diante da calamidade pública da nova doença. Ainda mais com a emergência do coronavírus. Abandonar a candidatura à reeleição, assim, não é um ato voluntário e, sim, uma imposição. Iris está saindo não porque quer, porém por estar sendo constrangido e obrigado a abrir essa porta e se despedir, para evitar o desastre de uma derrota nas urnas a esta altura da sua biografia.