Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

12 set

Efeito que a família buscava ao convencer Iris a abandonar a política, ou seja, sair no auge e reconhecido, não deu certo e agora ele é criticado até pelos aliados e definido como arcaico e ultrapassado

Não é novidade que Iris Rezende anunciou a sua aposentadoria política sob pressão, aliás legítima, da família – preocupada com a sua idade avançada e os riscos a que se submeteria em época de riscos graves para a saúde trazidos pela pandemia da Covid 19. Ele renunciou, forçado, à participação em uma eleição que seria a mais fácil da sua vida e ao mesmo em que desenvolvia a melhor administração da sua história pessoal como homem público, acreditando em um raciocínio que agora está se mostrando como errado e infeliz. Mais ainda: na plenitude das suas condições de saúde, sem um único óbice, ainda que mínimo, para um dia a dia produtivo e desimpedido. Um homem capaz de desmentir todos os estereótipos e preconceitos, desde quando começou muito jovem como vereador em Goiânia até hoje, passando por tudo o que passou.

Sim, leitoras e leitores, disseram a Iris que ele estaria se recolhendo no auge da sua carreira, reconhecido como o maior gestor de todos os tempos em Goiás e um exemplo para a História como o líder de maior e melhor trajetória em cargos de governo, ou, em outras palavras, afastando-se depois de ter cumprido seus compromissos coletivos da melhor maneira possível. Não se sabe se ele acreditou, mas o fato é que se submeteu – para, agora, menos de 10 dias depois da fatídica decisão de desistir da reeleição, assistir ao espetáculo da sua imagem sendo desconstruída até pelos aliados e transformada em sinônimo de “arcaico” e “ultrapassado”.

Foi o “sucessor’ de Iris como postulante a prefeito de Goiânia pelo MDB, Maguito Vilela, quem deu a senha. Em uma entrevista desastrada ao assumir a candidatura, Maguito decretou que a obsessão do prefeito com obras físicas seria enriquecida, em caso de uma vitória sua, com uma “modernização” da prefeitura. Com essa frase, além de ecoar as críticas que todos os demais envolvidos na luta pelo Paço Municipal já vinham disparando para atacar o prefeito, acrescentou a sua credibilidade ao desmonte do velho cacique emedebista, obviamente porque é um colega de partido e companheiro de décadas, perfeito para nele imprimir o carimbo de antiquado e obsoleto.

Agora imaginem só: daqui a dois meses, talvez três, se houver segundo turno, com tudo isso sendo repetido dia e noite não só por Maguito, como pelos prováveis quase 20 candidatos a prefeito que se apresentarão, o que restará da figura de Iris? Nada, pelo menos, que se pareça com a narrativa prevista pela sua família, em que ele seria identificado do como um semideus da política estadual e santificado como o melhor governante que Goiás já viu. Isso passou a correr um risco sério de não acontecer: houve indiscutivelmente um erro de cálculo na imposição dos parentes próximos, transformando uma situação concebida para engrandecer Iris em munição para a destruição do seu legado. Ele não merecia esse fim.