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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

10 out

Começou com o pé esquerdo: vídeo antigo de Iris, omissões, informações truncadas e cenas fora de contexto em programa de Maguito na TV repercutem mal e inserem o candidato em um mundo fake

O candidato do MDB Maguito Vilela deve estar convencido de que vai perder a eleição e de que, diante dessa perspectiva, precisa apelar para todos os artifícios, mesmo correndo o risco de passar a impressão de que está procurando iludir o eleitorado de Goiânia com informações sobre a sua pessoa e a sua carreira política que não condizem com a verdade. Tudo isso no seu primeiro programa no horário gratuito de propaganda eleitoral na televisão, em que o ponto alto foi um vídeo antigo de Iris Rezende sugerindo apoio a Maguito (print acima) – o que simplesmente não existe.

Maguito foi mais longe e, além do vídeo, inseriu duas cenas de campanha de rua, igualmente do passado, em que aparece em uma caminhada ao lado de Iris e na boleia de uma camionete, também com o prefeito, em uma carreata. É coisa de quatro, cinco anos atrás, senão mais, porém, ao deixar as imagens no ar como se fossem recentes, deu à manobra um cheiro podre de fake news. E, se Maguito acha que rendeu pontos para ele, provavelmente perdeu a aposta. Essa manipulação pode funcionar em Aparecida, mas não cola para as goianienses e os goianienses, hoje perplexos com a falta de apoio de Iris ao representante do seu partido na disputa pela sua sucessão. Se Iris não dá o seu aval ao “amigo com quem tem a vida entrelaçada”, como disse no vídeo vencido, é por que deve haver alguma justificativa séria – e daí por que eu, você, todos nós o faríamos, se Iris não o faz?

Fora isso, o programa esteve repleto de barbaridades. Maguito se apresentou como “bom orador”. Qual é? Falar bem nunca foi a praia do ex-vereador, ex-deputado estadual, ex-deputado federal, ex-vice-governador, ex-governador, ex-senador e (ufa!) ex-prefeito de Aparecida – cuja trajetória política, notem bem, leitoras e leitores, registra derrota em todas as eleições a que ele concorreu sem as bênçãos de um grande líder, como Iris. Em 2002 e 2006, candidatou-se a governador, sucessivamente, e perdeu, a primeira para Marconi Perillo e a segunda, pasmem, para Alcides Rodrigues. No início da sua vida pública, como candidato a deputado estadual, foi eleito graças ao voto vinculado com mais poderosa cabeça de chapa que já disputou um pleito em Goiás, ou seja, Iris Rezende, em 1982, em um contexto de tsunami eleitoral. Depois, como candidato a vice e candidato a governador, seguiu se saindo bem arrastado pelo cacique emedebista então no auge da forma. Ganhou para senador, enquanto Iris caía diante de Marconi em 1998, vá lá, vamos admitir que foi pelos seus méritos próprios. Mas daí em diante degringolou de novo, sem a força do apadrinhamento irista. Voltou como prefeito de Aparecida, por dois mandatos, porque foi identificado como alguém maior que o município pela população local, um político que descia das alturas para o humilde afã de administrar uma cidade menor.

Agora, como candidato a prefeito de Goiânia, Maguito está sozinho de novo. Tem que se agarrar nele mesmo. Iris, com o prestígio recuperado, negou o seu apoio, um golpe que ainda não foi absorvido e que deixou a campanha do MDB na capital em clima de depressão. Foi isso, mais os questionamentos pessoais (que existem, tanto que foi passado recibo), que levou ao infeliz programa apresentado na televisão na última sexta, 9 de outubro, na estreia da temporada eleitoral eletrônica.

Maguito inventou que foi advogado. Tá, ele é formado por uma faculdade em Anápolis, cuja fama hoje é melhor que a da época, onde fez o curso noturno, a exemplo do seu filho Daniel Vilela. Mas nunca militou no ramo, nem mesmo, como disse no programa, no início da sua escalada política, em Jataí, quando foi vereador. Mais fake news. Ao estudar e receber o diploma de Direito, já morava em Goiânia (deputado estadual) e Brasília (deputado federal). Nem sequer foi inscrito na OAB, quesito indispensável para atuar no Poder Judiciário, o que só fez depois de deixar a prefeitura de Aparecida. A realidade é que Maguito sempre foi um profissional da política – característica que ele sabe ser hoje negativa e o coloca em desvantagem, por exemplo, diante do adversário Vanderlan Cardoso, um empreendedor muito bem sucedido e dotado de experiência na iniciativa privada, que o concorrente do MDB não tem. Vanderlan, ao contrário de Maguito, não é identificado como produto da “velha política”.

No quesito familiar, que tomou a maior parte do programa, o que demonstra preocupação com o assunto, Maguito fez uma salada, misturando suas três famílias (é divorciado ou separado por duas vezes, o que gerou ações na Vara de Família que correm em sigilo, e casado uma terceira) para fabricar uma só. O esforço foi notável. Sim, algo incomoda, foi a sinalização passada, daí a tentativa de correção ou de vender uma imagem aceitável para os valores tradicionais. Vanderlan, na sua propaganda, exalta seus 32 anos de casamento e aparece de mãos dadas com a esposa Izaura, repetindo as estratégias de Marconi, em 2002, e Alcides Rodrigues, em 2006, para se contrapor ao oponente e aproveitar o falatório que corre sobre a sua vida particular. Isso é campanha. Isso é política. Não tem nada demais em ser usado. Se tiver, é da parte de Maguito, não dos seus antagonistas.

Maguito informou à audiência do seu programa que é um homem simples e humilde. Até nasceu em uma fazenda, em Jataí, lembrou. Omitiu que essa fazenda hoje é dele e que o seu tamanho é muito maior que a herança recebida, pelo menos conforme informações do seu ex-cunhado, o ex-deputado Geovan Freitas, em declarações à imprensa. Não mostrou as fotos que estão nas redes sociais o mostrando se divertindo ao redor do mundo, em destinos turísticos exóticos como Dubai e a África. Não, amigas e amigos, o candidato do MDB não é e passa longe de ser o homem e o político que ele mostrou na telinha.