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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

20 out

Aparição de Marconi em evento de campanha de Talles Barreto (0,3% nas pesquisas) não é “teste de receptividade” porque o ambiente é controlado e nem de longe espelha o eleitorado de Goiânia

O PSDB – ou o que restou do partido depois do naufrágio nas urnas de 2018 – vai tentar reunir os cacos na noite desta terça-feira para receber e ouvir o ex-governador Marconi Perillo a propósito da campanha ou do calvário do deputado estadual Talles Barreto, pretendente tucano à prefeitura de Goiânia que crava um índice chué na pesquisa Serpes/O Popular, de apenas 0,3 das intenções de voto. Esse número corresponde a menos de 2,5 mil votos no universo eleitoral da capital e simboliza com força a decadência do partido que mandou com mão de ferro na política de Goiás por 20 anos, até ser destronado e jogado na lona pelos próprios erros e uma sucessão inacreditável de escândalos de corrupção envolvendo as suas principais figuras.

É claro que portavozes apaixonados de Marconi, dentre os pouquíssimos que ainda existem, apressaram-se em plantar nos jornais versões de que a aparição do ex-governador seria um “teste de receptividade” do seu nome em Goiânia e o início da sua ressurreição política. Se a preocupação for com esses dois quesitos, o tucano-mor não precisa ir ao encontro dos seus prosélitos: 1) o seu nome não é benquisto e assim continua entre as goianienses e os goianienses, tanto que conseguiu entre elas e eles apenas 5o e poucos mil votos na eleição passada para o Senado, menos de dois anos atrás, ficando em 6º lugar e perdendo até para o desconhecido Agenor Mariano, do MDB e 2) retornar do mundo dos mortos da política ainda é e provavelmente será para sempre uma impossibilidade quase absoluta para Marconi, diante da amplitude dos desgastes profundos que acabaram com o seu nome e o empurraram para a condição de réu em mais de 40 processos cíveis por improbidade e pelo quatro na esfera penal, bastando uma condenação em duas instâncias, em qualquer um deles, para ser banido das eleições por oito anos.

Se tiver mesmo coragem para aparecer em público, mesmo em se tratando de um ambiente 99,9% controlado pelo PSDB e seus minguados cabos eleitorais, Marconi não estará produzindo nenhum resultado a não ser aumentar a deterioração do que sobrou da sua liderança, que vem como consequência de ser lembrado, e transferir parte dessa erosão para o candidato Talles Barreto – o mesmo que após a derrota de 2018 chegou a propor uma autocrítica do partido e uma renovação do seu comando, que não veio. Talles não tem nada a perder, ou mais o que perder, já que não tem chances em Goiânia – nem mesmo de experimentar um crescimento pequeno e se beneficiar de qualquer recall para os futuros passos da sua carreira. Não é sua culpa, apesar da imagem fria e distante que passa como candidato. A responsabilidade maior é do partido que representa. O PSDB goiano ficou preso em algum lugar de um passado que ninguém quer de volta. E, de resto, um bom “teste de receptividade” seria Marconi dar uma volta no Flamboyant ou ir à rua 44 para comprar uma camisa. Fora daí, é tapeação.