Candidatos infestam os bairros em carreatas improdutivas, que perturbam eleitoras e eleitores com um falatório surreal. Vanderlan, que fez isso no passado e viu que não funciona, não entrou na onda
Começou devagar, mas agora se intensificou: diariamente, à manhã e à tarde, dezenas de candidatos a prefeito e a vereador, em Goiânia, percorrem as ruas dos bairros de Goiânia com um falatório em que misturam propostas, críticas, ataques aos adversários e sobretudo muita auto-exaltação. É uma chateação para os moradores e trabalhadores, obrigados a aturar a barulheira muitas vezes incompreensível, que ainda é reforçada por locutores e apresentadores de feira especializados em gritaria contratados pelas campanhas.
São as carreatas ou minicarreatas, transformadas no principal instrumento quase presencial para o proselitismo na presente temporada eleitoral. Imagens são colhidas e imediatamente postadas no Stories do Instagram e em outras redes sociais menos concorridas. Nessa hora, pode ser que o efeito seja o contrário: o que se vê são candidatos desfilando à distância, do alto, empoleirados em carrocerias de caminhões e camionetes de todos os tamanhos, bradando para calçadas geralmente vazias e tentando forçar a valiosa resposta aos acenos de mão. Que quase nunca acontece. É fácil conferir nos vídeos disponibilizados pelos próprios políticos.
A política mudou, em um novo século que já se aproxima do seu primeiro quarto. Mas, seus atores, parece que não. Com os tempos modernos e com a contribuição da pandemia covídica, ninguém sabe com exatidão o que fazer para ganhar votos. Ainda se acredita e muito no poder de convencimento de mecanismos do passado, descontextualizados da realidade das eleitoras e eleitores de hoje. É o que se vê por aí. É também o que está nos programas do horário eleitoral gratuito, a maioria repetindo fórmulas pré-fabricadas e claramente superadas, com a produção de pequenos shows de imagens embalados por baladas românticas em vez de conversa séria do candidato com a audiência. É ridículo.
A título de exemplo, assistam (acima) ao vídeo postado pelo próprio candidato do MDB Maguito Vilela, em que ele aparece circulando por ruas vazias, casas fechadas e calçadas sem gente em um bairro de Goiânia, na semana passada, lembrando a campanha derrotada do PSDB em 2018, que chegava a promover 40 carreatas em um único dia pelo Estado afora. Compulsando as redes sociais do emedebista, confirma-se que ele adotou com força a estratégia. Tem sido assim, com Maguito, para todo lado. Digam vocês mesmos, amigas e amigos: é perda de tempo ou ajuda a definir uma eleição? Em eleições passadas, o candidato do PSD Vanderlan Cardoso usou e abusou desse, digamos assim, “recurso”, vendo de perto o pouco ou nenhum resultado que traz. Nesta campanha, pelo menos até agora, preferiu se concentrar em uma agenda intensa de reuniões e encontros com formadores de opinião, tipo associações profissionais, igrejas e coletivos os mais variados possíveis. Como se mantém isolado na liderança das pesquisas em que se pode acreditar, está dando certo.