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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

11 dez

Enquanto Maguito entra em fase de cuidados paliativos, crescem as dúvidas e preocupações com o vice Rogério Cruz, que pisa em ovos, enquanto Daniel Vilela também pisa

O prefeito eleito de Goiânia Maguito Vilela encontra-se em situação desesperadora na UTI do Hospital Israelita Albert Einstein, a essa altura submetido a cuidados paliativos, ou seja, destinados a minorar o seu sofrimento, diante da falta de perspectiva para a sua recuperação depois do forte ataque que sofreu do novo coronavírus, para o qual, de resto, não tinha nenhuma resistência genética (duas irmãs, igualmente idosas, morreram atacadas pela doença) e ao qual  jamais deveria ter sido exposto pela condução irresponsável da sua campanha. Pode ser, hoje, que Maguito seja, em termos mundiais, o paciente que mais recebeu e recebe cuidados qualificados para tentar sobreviver à Covid-19, a um custo inimaginável para a maioria dos mortais e viável apenas em um hospital de elevado nível de tecnologia  e também considerado como o melhor da América Latina, o Albert Einstein, em São Paulo, destaque em excelência na América Latina.

Enquanto isso, um falso processo de transição foi instalado na prefeitura de Goiânia. Parece até que aqui a 20 dias, Maguito vai assumir o comando do Paço Municipal, mas isso não vai acontecer. E provavelmente não acontecerá nunca. As sequelas que enfrentará são as piores e, ainda mais pela sua idade, caso sobreviva, deverá – ou deveria – se recolher a uma vida de cuidados médicos intensivos e pouco desgaste físico, o contrário que se espera de quem está em um cargo pesado como o de gestor administrativo da capital. Por ora, o fato é que, sem Maguito, qualquer transição é fake, um espetáculo montado para dar falsas satisfações a Goiânia. O prefeito Iris Rezende nomeou cinco secretários e a campanha do MDB, oficialmente através de ofício assinado pelo vice-prefeito eleito, indicou seus representantes para a discussão sobre a saída de um governo e a entrada de outro. São também cinco, sob a direção já aguardada de Daniel Vilela. A novidade, quase despercebida, é que, sintomaticamente, um deles, o desconhecido José Alves Firmino, foi escalado em atendimento a Rogério Cruz, de quem é chefe de gabinete na Câmara Municipal. É um primeiro e significativo sinal, da maior importância em tudo o que está ocorrendo em nome de Maguito, na sua ausência, e vai sobrevir.

Sim, leitoras e leitores, Rogério Cruz é uma perigosa incógnita. Daqui para ali, pode virar titular da prefeitura em definitivo, pelos próximos quatro anos e não é possível antecipar como procederá. Pelos seus antecedentes e pelo respaldo que tem de uma instituição poderosa como a Igreja Universal, tem tudo para não aceitar cabresto. Como é um homem experimentado e amadurecido, pode ser que se abra ao diálogo, mesmo porque qualquer prefeito precisa de uma base política na qual possa se sustentar, mas dependendo das circunstâncias de igual para igual – e elas estão batendo à porta. O MDB inteiro treme só de pensar nessa hipótese. Daniel Vilela também. Ganhar a eleição exigiu sacrifícios, um deles do próprio Maguito, exposto inconsequentemente ao novo coronavírus durante a campanha. De repente, entre os dedos, o troféu conquistado ameaça escorrer. É por isso que se diz que o filho, herdeiro e dono de tudo no MDB pisa em ovos ao se relacionar com o vice (e daí a inusitada presença de um preposto dele na comissão de transição), que por sua vez também anda como um gato sobre brasas ao interagir com Daniel Vilela. Que Rogério Cruz vai ser prefeito, vai. Se efetivo ou provisório, não se pode dizer ainda. Que vai ser prefeito, de qualquer maneira, por um longo período de tempo, também vai. A caneta será dele, só que, se de alguma forma Maguito voltar, vira fumaça no ar. Fica sem tinta. Portanto, todo cuidado é pouco, tanto no caso de Rogério Cruz quanto no de Daniel Vilela, enquanto duram as incertezas. O que vem aí para Goiânia só Deus sabe. A cidade elegeu um e vai ter que engolir outro.