Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

22 dez

Plano de Maguito para transformar Goiânia em “cidade inteligente”, exaltado por O Popular, beira o ridículo e não passa de uma mera informatização de alguns serviços

O tal plano do prefeito eleito Maguito Vilela para transformar Goiânia em “cidade inteligente”, exaltado em duas matérias de O Popular, não passa de uma mera informatização de alguns serviços através de softwares que serão comprados, passando longe de uma visão integrada de todas as obrigações da prefeitura e da facilitação do seu acesso para a população – principalmente as camadas mais carentes. Para piorar, muitas das propostas, como se vê no gráfico acima publicado pelo jornal, são  antigas e superadas. Algumas delas, como a disponibilização de wi-fi em praças e logradouros, já foram exaustivamente testadas e não deram certo, diante, por exemplo, da democratização da internet via aparelhos telefônicos celulares e o advento do 4K. Até o velhíssimo projeto de “requalificação do centro”, presença infalível no discurso de todo e qualquer candidato a prefeito, nos últimos 20 anos ou mais, foi enfiado no cartapácio.

Maguito, quando começou a sua campanha e antes de ser atacado pelo coronavírus, andou mencionando em entrevistas e discursos a ideia de uma “cidade inteligente”. Quanto mais abordava o assunto, mais deixava claro que não sabia do que estava falando. Quem o conhece sabe que ele sempre foi e é analógico. De digital, o máximo a que chegou foi fazer ligações no smartphone,  responder as mensagens no WhattsApp e abrir um aplicativo ou outro. Suas manifestações sobre a nova Goiânia que ele pretenderia implantar basearam-se em informações e conceitos que provavelmente ouviu de colaboradores, mas não entendeu, se é que estava assessorado nesse nível. O resultado acabava em forma de salada, conforme expresso no plano  de modernização da capital: uma mistura estapafúrdia de ações como a criação de museus do futebol e da música sertaneja com uso de drones para monitorar as ruas.

Na cabeça de Maguito, a vizinha Aparecida, que governou por dois mandatos, é uma “cidade inteligente” só porque o seu sucessor Gustavo Mendanha montou um limitado sistema de videomonitoramento de alguns pontos de maior movimento, cuja utilidade prática não foi demonstrada até hoje – a não ser para receber visitas e apresentar o painel de telas de LED como um trunfo político. A sala foi exibida nos programas de televisão do MDB em Goiânia, ajudando a fundamentar visualmente a promessa de fazer de Goiânia um lugar em que a gestão municipal seria a mais avançada possível. Muitos caíram na esparrela. Pelo que foi resumido na reportagem do entusiasmado O Popular, não vai acontecer.

Hoje, é consenso que não cabe a um município cuidar de políticas de geração de empregos ou de industrialização (itens que também estão no planejamento que Maguito registrou no TRE). O que importa, para valer, é a prestação de serviços de qualidade, dentro de uma concepção integrada da vida urbana, que não deixa de fora setores como a saúde, a educação, a mobilidade, o meio ambiente, o saneamento, o abastecimento e, como escopo para tudo isso, a sustentabilidade. Cidade inteligente, assim, é muito mais que apenas usar tecnologia intensiva ou recorrer massivamente à internet das coisas. Um centro urbano do futuro fundamenta-se em um sistema de inteligência articulado que permita um melhor gerenciamento administrativo, oferecendo conforto para os seus moradores em um ecossistema agradável, seguro e com foco nas cidadãs e nos cidadãos.

O pano de fundo de uma cidade inteligente é o urbanismo, abrindo espaço para a definição de moradias diferentes, uso coletivo dos espaços e prioridade para o pedestre, levando a uma redução da circulação dos habitantes capaz de aliviar o tráfego. Além disso, incentivo à inovação e à pesquisa, mesmo que não se tenha um polo específico para essas atividades, porém viabilizando a conexão com outros pontos – em outras cidades – de desenvolvimento científico, liderando a região metropolitana. Na verdade, é mais do que disponibilizar apps para interagir com as faixas da sociedade e, sim, reorganizar os serviços públicos para garantir uma gestão mais eficiente. Mais também que lotar Goiânia de câmeras e semáforos responsivos, item, em especial, que tem grande destaque no plano de Maguito, copiando a experiência supostamente bem sucedida de Aparecida..

Cidade inteligente é um conceito, enfim. E um dos seus aspectos é a incorporação de tecnologia, que o novo prefeito, um político de corte tradicional e vindo do passado distante, confunde com a ideia em si. Não é o que Goiânia será algum dia, pelo menos através do caminho escolhido por Maguito.