Igreja Universal tem projeto de poder para o Brasil. Depois da queda de Crivella, no Rio, Rogério Cruz, em Goiânia, passa a ser a principal atração da vitrine do pastor Edir Macedo. E isso arrepia o MDB
A Igreja Universal do Reino de Deus tem um projeto de poder para o Brasil. Isso não é segredo para ninguém e se baseia na tentativa de expansão do seu braço partidário, o Republicanos, que elegeu 211 prefeitos no último pleito – mais do que o PT, que conseguiu apenas 183 – e atraiu a filiação de dois filhos do presidente Jair Bolsonaro, além da possibilidade hoje fortíssima de receber o próprio Bolsonaro para sustentar a sua candidatura à reeleição. Nacionalmente, a personalidade número um do partido e da Universal era o pastor Marcelo Crivella, prefeito do Rio que teve a reeleição rejeitada pelas urnas e, pior ainda, acabou preso como devorador de propinas.
Se antes era Crivella, agora é Rogério Cruz, que assumiu interinamente o comando administrativo de Goiânia com o impedimento, teoricamente temporário, de Maguito Vilela, assolado pelas sequelas do coronavírus na UTI do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Rogério Cruz ganhou uma projeção inesperada. Ele é pastor da igreja e membro fervoroso, tendo dedicado a sua vida ao culto evangélico liderado por Edir Macedo. Não há como negar: sua estrela é a mais brilhante da vitrine política da Universal e do Republicanos, maior esteio a partir de já do plano de dominação política dos crentes fundamentalistas que almejam superar os limites da religiosidade para se transformar em representação máxima da direita no país, um desígnio ousado que, por se situar em um dos extremos do espectro doutrinário, dificilmente seria comprado pelo eleitorado. Mas também é indiscutível que Rogério Cruz tem uma linha de ação, enquanto o MDB – e Daniel Vilela – têm outra.
Das grandes cidades brasileiras, a Igreja Universal e o Republicanos estão governando desde 1º de janeiro Vitória, Campinas e Sorocaba. Goiânia, com a doença de Maguito, entrou na lista, com potencial superior a todas as demais, inclusive a capital do Espírito Santo, que tem no máximo um terço da população da capital goiana. Isso dá relevância a Rogério Cruz e o coloca, caso venha a ser efetivado com uma incapacitação definitiva do titular da prefeitura que pode vir daqui para ali, como a maior esperança do seu grupo político e religioso para vender o peixe do conservadorismo intransigente para a sociedade brasileira. É por isso que o MDB não confia no vice de Maguito, por ora entronizado no comando da prefeitura. Lógico, todo cuidado é pouco no relacionamento com o prefeito de fato. Os emedebistas e Daniel Vilela oportunisticamente buscaram na eleição passada e continuando querendo para 2022 os votos assegurados pela rede de templos da Igreja Universal e seu rígido controle dos fiéis, mas sem compartilhar ou se envolver com a pauta retrógrada do Republicanos, que tem aceitação limitada em Goiás. Se, por isso ou por aquilo, a interinidade se transformar em definitiva, o que sobrevirá é um desastre cataclísmico para os emedebistas e seus planos para o futuro. Eles não querem sujar as mãos, só aproveitar as vantagens da relação com os evangélicos representados por Rogério Cruz. É uma jogada que motivou estrategicamente a formação da chapa MDB-Republicanos. Só que, por causa da Covid-19, deu errado. É quase certo, infelizmente, para Goiânia, que escolheu uma proposta na eleição passada e está sendo obrigada e engolir outra, o advento de um conflito político no alto do Park Lozandes e mais caos administrativo.