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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

18 jan

Aposentadoria de Iris e morte de Maguito vão interromper o troca-troca de 40 anos entre os mesmos nomes no MDB de Goiás? Pode ser, mas os “filhotes” estão aí para continuar as 2 dinastias

Iris Rezende se aposentou. Mas, menos de uma semana depois de deixar a prefeitura de Goiânia, abriu um escritório político para receber correligionários e dar conselhos. Além disso, tem uma filha, a advogada Ana Paula Rezende, pronta para ingressar na política, atividade para a qual já mostrou gosto discursando em palanques e participando de ações públicas. Enquanto isso, Maguito Vilela morreu, vítima da imprudência com que se expôs ao novo coronavírus durante a campanha passada e também da negligência com que deixou de ser protegido pelos seus familiares e assessores. Porém, antes mesmo do seu desaparecimento, um herdeiro político já havia se apresentado, o filho Daniel Vilela, que segue a trajetória do pai passando por uma penca de cargos públicos eletivos.

Durante 40 anos, Iris e Maguito se revezaram como os donos de todas as candidaturas importantes do MDB, depois PMDB, em seguida MDB de novo, em Goiás. A cada pleito, ou um ou outro, abrindo-se uma honrosa exceção apenas em 1986, quando não foi possível impedir que Henrique Santillo ganhasse o governo de Goiás pelo partido. Em nenhuma outra parte do país, uma legenda, qualquer delas, ficou tão bitolada assim, nas mãos dos mesmos de sempre, ano após ano, década após década, sem nenhuma renovação. Que agora, pela força do destino, parece se aproximar, mas…

…só parece, no entanto. O MDB goiano vai continuar submetido ao DNA dos Rezende e dos Vilelas. Dificilmente Ana Paula, legatária legítima, haverá de deixar que o patrimônio construído pelo pai na política seja jogado no ralo. Mais cedo ou mais tarde, ela inevitavelmente será candidata. Se não for, permitirá que a história de mais de 60 anos de Iris no exercício de funções e mandatos de todos os matizes se perca sem que seja exercitada em suas últimas consequências. Do mesmo jeito, Daniel Vilela, que, como se sabe, já vinha usufruindo do espólio imaterial de Maguito e daqui para frente o fará com toda a intensidade possível.

Conclusão: os 40 anos de rotatividade entre Iris e Maguito tendem a se prolongar por mais 40 ou quem sabe até mais, projetados nos “filhotes” que fatalmente procurarão se beneficiar das trajetórias paternas. Na era republicana, será inédito em termos de país e quem sabe de mundo. Coisa parecida só se viu nos tempos da realeza, quando o poder passava desse para aquele e daquele para esse, dentro de rígidas estruturas de parentesco. Sim, eis aí uma definição para o fenômeno caracterizado por essa modalidade arcaica de controle do poder: realeza. Em Goiás, a realeza do cerrado.