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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

23 jan

Não existia antes, mas agora é realidade: Caiado e Daniel Vilela abriram canal para o diálogo DEM-MDB, que tem amplas possibilidades para o futuro e já pode render frutos para 2022

O governador Ronaldo Caiado e o presidente estadual do MDB Daniel Vilela abriram e estão mantendo em pleno funcionamento um canal de diálogo que pode revolucionar o futuro da política em Goiás, gerando frutos a partir de 2022. É precoce antever resultados, mas, mesmo assim, as possibilidades são grandes, culminando até mesmo com uma aliança DEM-MDB para disputar a próxima eleição majoritária.

Ambos aproximaram-se a partir do início do padecimento do prefeito Maguito Vilela sob o ataque da Covid. Todos se lembram: Caiado, como médico, tomou a iniciativa de telefonar para Daniel Vilela para aconselhar a transferência do pai para São Paulo, onde teria menos exposição, preservaria a família e veria aumentadas suas chances com um tratamento de ponta, como, de fato, acabou acontecendo no hospital escolhido, o Albert Einstein, considerado como o melhor da América Latina, onde Maguito passou 80 dias internado na UTI e só não se salvou devido, infelizmente, à sua fragilidade genética para o enfrentamento da Covid. A partir daí, o governador e o presidente emedebista passaram a se falar regularmente por telefone, até que Daniel Vilela, entre o fim do ano passado e o início deste ano, fez duas visitas ao Palácio das Esmeraldas, uma acompanhando o prefeito Rogério Cruz e outra sozinho, nesse último caso para conversar sobre a candidatura do deputado Baleia Rossi, amicíssimo de Daniel, a presidente da Câmara.

Em meio a tudo isso, sobreveio a morte de Maguito e não é exagero dizer que, a partir das cerimônias fúnebres em Goiânia e Jataí, acompanhadas de perto por Caiado, o que era um relacionamento amparado em critérios de solidariedade transformou-se em algum tipo de amizade. Logo depois, mais uma passagem de Daniel Vilela pelo Palácio das Esmeraldas, rompendo o luto para participar de um jantar, dois dias atrás, em torno de Baleia Rossi e do atual presidente da Câmara e seu principal apoiador Rodrigo Maia, que é do mesmo partido do governador. Em um momento e outro, durante essas ocorrências, anotaram-se conversas prolongadas, a sós, abraços, demonstrações de carinho, uma intensa comunicação telefônica, no conjunto levando, no final das contas, ao surgimento talvez de um sentimento parecido com o que existe entre um pai e um filho, lembrando-se que Caiado tem praticamente a mesma idade com que Maguito morreu.

A política se nutre de fatos concretos e este é um deles, com potencial para desenhar um novo cenário para a próxima eleição. A isso se acrescenta a hipótese de inclusão do Republicanos liderado pelo prefeito de Goiânia Rogério Cruz para ingressar na base governista, com a indicação de representantes para cargos importantes no Estado. E ainda somando a identificação do ex-prefeito Iris Rezende com ambas as partes, em especial com Caiado, e a adesão do prefeito de Aparecida, segundo maior colégio eleitoral do Estado, Gustavo Mendanha. O movimento é tão amplo que praticamente extinguiria a oposição em Goiás – ou então provocaria o surgimento de uma nova – e criaria um novo e poderoso eixo de poder, com expressão nacional, apto a durar não anos, porém décadas, dada a sua força e os elementos sociais e emocionais coletivos sobre os quais estaria assentado, como o legado de Maguito, por exemplo, e a historicidade de Caiado e seu rigor ético, como outro exemplo. Não haveria nada tão autêntico e tão forte na política de nenhum outro Estado brasileiro. Pode acontecer em Goiás? Pode e não será ruim.