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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

28 jan

Rogério Cruz é uma espécie de prisioneiro no Paço Municipal, cercado de carcereiros emedebistas, como Andrey Azeredo e Agenor Mariano, e de vigilantes comandados por Daniel Vilela

O “preso político” mais ilustre de Goiás atende pelo nome de Rogério Cruz. O único, aliás. Ele ocupa o cargo de prefeito de Goiânia, e cumpre “pena” no “presídio aberto” que fica no Park Lozandes e é conhecido por Paço Municipal. Tem direito a livre circulação, a entrar e sair do prédio quando quiser, mas está proibido de manejar a caneta, a não ser sob supervisão direta dos carcereiros Andrey Azeredo e Agenor Mariano – com todos os seus passos acompanhados de perto, exceto quando vai ao banheiro, pelos vigilantes designados pelo presidente estadual do MDB Daniel Vilela, entre os quais vários membros da família Vilela ou da sua confiança estrita, que não afrouxam a coleira nem mesmo quando está fora do seu gabinete.

Fruto de um acaso do destino, Rogério Cruz transformou-se no dono da segunda posição de mando político e administrativo mais importante do Estado, perdendo em importância apenas para o governador Ronaldo Caiado. O fardo que ele carrega nas costas é pesado: não tem, pelo menos por enquanto, autonomia para decidir sobre nada na prefeitura da capital, porém, caso qualquer ação grande ou pequena dê errado, a responsabilidade recairá no seu colo e será ele o sacrificado no altar da opinião pública das goianienses e dos goianienses. Não tem bônus nenhum, só ônus. E ainda: por ora, não absorverá nenhum acerto, que será creditado ao plano de governo deixado pelo prefeito Maguito Vilela, só que, quanto a deslizes e falhas, é ele, Rogério Cruz, quem pagará o pato sozinho.

Esse modelo de exercício do poder, seja em que esfera for, municipal, estadual ou municipal, é um arranjo provisório fadado ao fracasso. No Brasil, há um certo imperialismo adotado pelo sistema republicano vigente, pelo qual a autoridade, em última análise, é do detentor do mandato executivo e indivisível. O que foi montado na prefeitura de Goiânia é exatamente o contrário disso, disfuncional da tampa até o fundo. Não vai dar certo. É uma bomba-relógio, sem data para explodir, apenas contando com a certeza de que um dia vai explodir. Um prefeito legitimamente sentado na cadeira – apesar do estelionato eleitoral que o colocou lá – jamais passará os seus quatro anos de mandato aceitando ser manipulado e compartilhando todas, absolutamente todas as decisões, algumas das quais, como a formação da sua equipe de auxiliares, com uma taxa de 100% de exclusão da sua vontade.

É inédito: pela primeira vez, um governante em Goiás é assessorado com um secretariado no qual não tem cota pessoal ou sequer nomes da sua intimidade em postos estratégicos a não ser o direito que recebeu para a nomeação do seu secretário particular – alguém que cuida dos assuntos particulares do chefe e portanto não tem peso no conjunto da obra. Não há lealdades acima de qualquer suspeita, portanto, com as quais Rogério Cruz possa contar. Haverá um momento, diante de todos esses ingredientes explosivos, em que a casa vai correr o risco de cair. Não é possível fazer a gestão da coisa pública sem uma agenda de trabalho – e Rogério Cruz está impedido de ter a sua, a não ser se comportar como um servidor fiel do MDB e de Daniel Vilela, o que significa que a agenda é deles e que o prefeito é um mero braço executor. Antes até mesmo de um suspiro, ele precisa consultar a eminência parda do Paço Municipal e a horda de atentos zeladores e sentinelas que tem ao seu redor espionando até os seus menores gestos, interpretando suas atitudes e se esforçando para ouvir as suas conversas. Isso é fato, não tem cabimento continuar assim e está acontecendo no alto do Park Lozandes.

Atualização, às 12h15m de quinta, 28/janeiro/2020: Em vez de melhorar, está piorando. O Diário Oficial do município publicou agora há pouco decreto do prefeito Rogério Cruz criando um “conselho político”, formado por oito membros da sua equipe e pelo presidente estadual do MDB Daniel Vilela, que não tem posição alguma no organograma da prefeitura, o que sugere algum tipo de irregularidade (usurpação de poder, delito tipificado no Código Penal). Esse grupo vai “assessorar” a tomada de decisões do prefeito. Juízo passou a ser atributo raro no Paço Municipal. É uma aberração sem tamanho.