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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

04 fev

Gestão de Rogério Cruz, o prefeito que não foi eleito pelas goianienses e pelos goianienses, vai de mal a pior: ações populistas, falta de agenda, politicagem com vereadores e aberração administrativa

A bomba-relógio instalada na prefeitura de Goiânia com a assunção de Rogério Cruz e do projeto de poder do MDB continua tiquetaqueando. Na edição de quarta, 3 de fevereiro, o jornalista Leandro Monteiro dos Santos colocou tudo em pratos limpos com um artigo corajoso em O Popular, veículo de comunicação normalmente avesso a esse tipo de crítica. Diz ele que o Paço Municipal vai muito mal, recorrendo a artifícios da velha política como o tal “conselho político” criado para assessorar o prefeito, no qual três membros da dinastia Vilela têm assento – Daniel, Leandro e Gean Carvalho. Confiram, no parágrafo a seguir, o que diz o jornalista:

“A escolha desses nomes para desenvolver ações altamente influentes, com movimentações diretamente ligadas ao gabinete da prefeitura, remonta a um ar de conchavo, baseado em conveniências políticas com o MDB. Em uma grande articulação política, Daniel Vilela busca espaço de coordenação da cidade, agora de forma oficial, o que reforça que a política exercida por meio de dinastias e coronelismos, apesar de defasada e inconsistente, persiste a latejar na conjuntura brasileira atual. O importante a ser dito é que o principal pilar da política brasileira, da qual Goiânia faz parte, é a democracia. Rogério Cruz, Daniel Vilela e demais envolvidos no Conselho deveriam saber que o modelo de governo que tentam emplacar é, em primeiro lugar, amoral e, em segundo, incompatível com os princípios democráticos que regem o país”.

Está coberto de razão. O “conselho político” criado por Rogério Cruz é uma aberração e também uma auto humilhação, já que ele passa atestado de que não tem capacidade para resolver sozinho os desafios colocados pela complexidade urbana de Goiânia, como compete a qualquer prefeito, com as assessorias convencionais de que dispõe. O cheiro é o de um artifício criado para enfiar Daniel Vilela no Paço Municipal, o que, mesmo sendo filho de Maguito Vilela, não é da sua competência. Como tudo que pode piorar, piora, o prefeito resolveu parar de trabalhar às segundas-feiras e desperdiçar o seu tempo para receber vereadores. É o fim da picada. Imaginem, leitoras e leitores, o governador Ronaldo Caiado paralisando a administração estadual para conversar um dia inteiro com deputados, que, aliás, são muito mais importantes do que os membros da Câmara, a maioria infelizmente dedicada a questões miúdas.

Rogério Cruz não tem agenda. Não uma antenada com as demandas de Goiânia por políticas públicas municipais. Isso é grave porque decorre da sua falta de legitimidade para o cargo que caiu no seu colo, depois do estelionato eleitoral que ungiu um prefeito incapacitado fisicamente para a função. Não é à toa que ele, Cruz, está recorrendo desesperadamente às promessas populistas da campanha de Maguito, como o IPTU social e o auxílio emergencial de R$ 300 reais, que servem para muita propaganda, porém não para cobrir as necessidades da maioria necessitada da população. Ele quer aprovação a qualquer preço, o que não vai acontecer: juntos, esses dois programas não vão atingir nem 20 ou 30 mil pessoas, ou seja, um pingo no oceano das carências sociais que afligem as volumosas parcelas dos economicamente aflitos da capital.

O MDB que está empoleirado no Paço Municipal, em parte expressiva, não corresponde aos setores mais evoluídos da legenda, se é que existem. Daniel Vilela não representa nenhuma mentalidade progressista ou inovadora, ele, como disse o artigo publicado por O Popular, na verdade tem um jeito de ditadorzinho e de estrela precoce da velha política, apesar de jovem, bastando para isso conferir a sua gestão como presidente do partido e a perseguição implacável a quem não apoiou a sua candidatura suicida em 2018, com o apoio do pai, aquele que se quer inscrever na história como o “conciliador” e o “pacificador” que nunca foi. Diz o texto de O Popular: “A gestão adotada por Rogério Cruz, remete a uma estrutura de governança ultrapassada, muito parecida com as oligarquias e com o coronelismo, pelos quais os Estados do Brasil foram condenados durante muito tempo”. Não há como contestar.

Cada vez mais, desponta a visão de que a eleição de Maguito, nas condições em que se deu, foi um equívoco sem tamanho. As consequências, também crescentemente deletérias, caminham para serem as mais dramáticas possíveis e não vão tardar para chegar.