Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

11 fev

Sem identidade e fazendo uma gestão que, por um lado, é projeção de alguém que já morreu, e, por outro, mera continuidade ao focar em obras inacabadas de outrem, Rogério Cruz é um prefeito fantasma

O pastor evangélico Rogério Cruz ganhou um prêmio da mega-sena, infelizmente por conta da tragédia que se abateu sobre Maguito Vilela, em cuja chapa havia pousado por injunções mais religiosas do que políticas (o MDB queria “roubar” votos pentecostais que acreditava comprometidos com o “irmão” Vanderlan Cardoso) e da noite para o dia transformou-se em prefeito de Goiânia. Só que isso apenas, ou seja, somente se sentar no espinhoso trono do Paço Municipal, não é suficiente para a afirmação de ninguém como um gestor qualificado e aprovado para Goiânia. É preciso mostrar serviço.

E é justamente esse o drama de Rogério Cruz. Ele não é ele, mas uma projeção de alguém que já partiu deste mundo e uma continuação de outrem que estava antes no seu lugar. O prefeito adotou uma estratégia arriscada. Apregoa aos quatro ventos que trabalha no alto do Park Lozandes para implantar o programa de governo deixado por Maguito, aliás um amontoado de propostas sem maior profundidade, temperadas com muito populismo e linguagem pseudotecnológica para dar a impressão de modernidade, mais material para o marketing eleitoral do que para definir um futuro para a capital. Ele não hesita em garantir que a sua administração também é sequência da realizada pelo seu antecessor Iris Rezende, na medida em que a única prioridade é concluir entre 20 e 30 obras prometidas para até o final do ano passado, mas deixadas inconclusas e, pior ainda, com recursos duvidosos para a sua conclusão.

Podem apostar, leitoras e leitores: na tentativa de absorver o que Maguito e Iris legaram, em parte uma lavoura de abacaxis, Rogério Cruz nunca será ninguém, a não ser um fantasma vagando perdido pelos corredores do Paço, situação, aliás, que interessa e muito ao MDB e aos seus propósitos nos sentido de manter o prefeito sob controle e de se aproveitar das burras municipais para consolidar suas ambições para o futuro – a exemplo da indecente criação de mais de 300 cargos comissionados, com salários entre R$ 8 e 12 mil mensais, para distribuição a aliados e apaniguados políticos.

Não há como vencer na política, pelo menos no time de primeira linha, sem ideias próprias e sem representar um ideal. Vejamos o exemplo recente de Alcides Rodrigues, que era vice de Marconi Perillo e foi catapultado para o cargo de governador, para o qual não estava à altura e do qual saiu sem deixar um rastro, um vestígio da sua passagem, depois de se debater durante todo o seu mandato com a dúvida hamletiana entre assumir a continuidade a Marconi ou partir para uma ruptura a Marconi. Rogério Cruz nem essa ambiguidade tem: está convicto de que pode ser Maguito e Iris, ao mesmo tempo, quando jamais será nenhum dos dois, nem mesmo uma cópia pálida. E, até agora, não é também Rogério Cruz, se é que há um.

Quarenta dias depois de empossado, permanece o mistério: quem é esse prefeito que o destino colocou para administrar Goiânia sem ter sido eleito?