Como está hoje, o PSD não fica: partido tem a chance de disputar com o MDB o 2º lugar como mais importante do Estado ou sucumbir como feudo pessoal de Vilmar Rocha
O PSD é o partido que tem os quadros de elite mais importantes do Estado, no momento, depois do DEM, este obviamente pelo peso do governador Ronaldo Caiado e pelo fato de administrar Goiás. Fora o DEM, o PSD tem peso simbólico equivalente ao do MDB, que leva ligeira vantagem por controlar Goiânia em uma espécie de meia-sola administrativa e arriscada representada pelo prefeito Rogério Cruz e Aparecida, gerenciada integralmente com um emedebista da gema como o é Gustavo Mendanha. Mas o MDB se resume a essa estrutura geopoliticamente contida na região central de Goiás, enquanto o PSD exibe qualidade com uma brilhante vitrine que tem o senador Vanderlan Cardoso (ora, dirão, o MDB também tem um senador, Luiz Carlos Carmo, que infelizmente não conta porque é um vereador ou no máximo um deputado estadual em exercício no Senado), o recém-chegado ex-ministro Henrique Meirelles e o deputado federal bem comportado Francisco Jr, valendo acrescentar a essa lista, mesmo sem mandato, porém pela credibilidade, o presidente estadual cinco estrelas Vilmar Rocha.
É um time dos sonhos para qualquer sigla partidária. Qual o problema, então? Ocorre que há um desnível cada vez mais latente entre Vilmar Rocha e o restante da turma. O que o presidente quer é uma coisa, o que Vanderlan, Meirelles e Francisco Jr miram é outra. Não é difícil prever que, como está, com cara de feudo pessoal do seu presidente estadual, o PSD não vai continuar. Algo vai acontecer, senão agora, daqui a alguns dias, ou semanas ou meses, este ano ainda, a tempo de preparar o partido para sua participação proporcional e majoritária nas eleições de 2022. E a aposta mais consistente implica no afastamento de Vilmar Rocha, pelo bem, mediante algum tipo de acordo em que ele aceitaria a orientação dos colegas, ou pelo mal, através da destituição pura e simples que viria da intervenção do diretório nacional.
Poucos políticos são tão respeitados e respeitáveis, em Goiás, como testado com sucesso ao longo de décadas. Vilmar já perdeu eleições por se recusar a transigir com seus princípios e por insistir em manter uma coerência suicida. E ainda tem um defeito grave: não é bom na matéria em que lideranças na sua posição são mais cobradas, que é a articulação política. Vilmar não é um bom articulador talvez exatamente por essas virtudes pessoais que na maioria das vezes acabam prejudicando a ele próprio – e esse é um preço que ele faz questão de pagar, tanto que já disse ao autor dessas mal traçadas que “todas as eleições que ganhei, ganhei com o mínimo de concessões”. Verdade, ganhou, mas não passou da Câmara Federal.
Somados todos esses fatores, o que o presidente do PSD goiano defende, no momento, é uma impossibilidade política. Mesmo com a excelência dos nomes que estão no partido, ele quer manter a indefinição ou a neutralidade, deixando para o ano que vem um posicionamento sobre qual lado – Caiado ou a oposição – irá preferir. Isso não é viável para Vanderlan, Meirelles e Francisco Jr nem para os peixes pequenos pessedistas, tipo o deputado estadual Lucas Calil, a vereadora Sabrina Garcez e os nove ou dez prefeitos da agremiação, esses últimos ansiosos por parcerias administrativas com o governo do Estado. Se deliberasse em conjunto, ouvindo a maioria dos seus membros de importância, o PSD já estaria há tempos ocupando espaço no governo Caiado e não alimentando utopias.
Quem está segurando esse movimento pró-Palácio das Esmeraldas, no limite das suas forças, é Vilmar Rocha. Sim, houve uma inimizade de anos e anos entre ele e Caiado, enfim superada pelo amadurecimento de parte a parte, tanto que na semana passada o governador ligou para cumprimentar Vilmar pelo aniversário. Ele perdeu a ligação, mas retornou e ouviu os merecidos parabéns pelas mais de sete dezenas de primaveras em um tom acima do protocolar. De certa forma, são amigos, agora. Indo mais longe, não há mais óbices individuais e menos ainda políticos para que o próprio presidente do PSD, em uma hipotética composição, venha a perfilar no secretariado de Caiado. Passa da hora. Como ele não aceita a ideia e ainda vai adiante com a afirmação esdrúxula de que o partido não participa de gestões que não ajudou a eleger, o que é tanto infantilidade quanto falta de realismo, instalou-se o impasse. E, na política, impasses são resolvidos com o sacrifício da banda mais fraca, ele, o sem mandato Vilmar.
O PSD é o partido errado para Vilmar Rocha. Em Brasília, integra o abominável Centrão. Vilmar negou por muito tempo esse alinhamento, mas depois se calou ante os fatos. Seu presidencial nacional é o enrolado ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro Gilberto Kassab, presença constante em escândalos de propinas, de quem o dirigente goiano se gaba de ser amigo do peito e por isso deduz que provavelmente jamais seria atropelado em suas decisões, esquecendo-se de uma lição primária da política – a de que não há amigos, só interesses. Nesse sentido, Vilmar no comando estadual do PSD já seria uma aberração, uma vez que as seções regionais dos partidos são sempre entregues a quem tem cadeira em Brasília, pelo reflexo direto que isso tem nas negociações dentro do Congresso Nacional. Se houvesse lógica estrita na política, Vanderlan é quem estaria no leme do PSD goiano, se é que, logo, logo, não vai estar.