Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

06 mar

Igrejas querem ficar abertas, mesmo colocando a vida dos fiéis em risco, por um motivo muito simples e prático: são negócio e negócios não podem parar

Há um ponto em que todas as religiões convergem para um consenso bem pé no chão: o faturamento. Em outras palavras, igrejas tanto católicas quanto evangélicas, através dos seus numerosos representantes na política, defendem a ideia estapafúrdia de que representam uma espécie de atividade essencial e por isso devem continuar funcionando sem restrições, mesmo submetendo os bem intencionados fiéis ao risco de contaminação pela Covid-19.

É um exagero e tanto alegar que religião é atividade essencial e por isso deve ser privilegiada com a permissão para abrir as portas dos templos para aglomerações que, no final das contas, vão matar parte dos convertidos. Infelizmente, essa é a verdade. Mas, sejamos realistas, leitoras e leitores, no capitalismo de hoje as igrejas se adaptaram ao profano e não passam de balcões comerciais que, em troca de alento para pessoas vulneráveis, vendem no atacado a promessa de alívio espiritual, ao custo de tostões, que, acumulados, rendem milhões, haja vistas ao exemplo do falso profeta de Trindade, o tenebroso padre Robson, aquele malandro montou um esquema fraudulento de arrecadação de bilhões de reais com base na boa fé dos romeiros do Divino Pai Eterno e enfiou essa montanha de dinheiro em fazendas, empresas, casas luxuosas na praia, suborno de autoridades e mais sabe-se lá onde – menos na construção da basílica dedicada à tríade santificada.

O prefeito de Goiânia Rogério Cruz, crente do pé rachado, iguala-se ao cristão de sacristia e deputado federal Francisco Jr. Ambos dão duro para que a arrecadação do bom e terreno dinheiro, em suas assembleias e paróquias, siga sem interrupção. Cruz encaminhou um projeto para a Câmara para que pregações de pastores e padres em ambientes fechados sejam consideradas legalmente como atividade essencial e, portanto, acima de qualquer restrição quanto à sua operação cotidiana, danando-se as ovelhas do rebanho que vão se sujeitar à ferocidade mortal do coronavírus. O que igualmente beneficia a igreja católica que tem em Francisco Jr um procurador denodado e atuante da cúria de Goiânia, incapaz até hoje de uma palavra sobre o engodo do padre Robson. As caixas registradoras precisam tilintar. E não só para os evangélicos e católicos que são maioria, como também a miríade de seitas e ramos do pseudossagrado que atraem incautas multidões maiores ou menores prometendo a vida eterna ou o conforto do além, como os simpáticos e populares umbandistas.

Se tivessem juízo e comprometimento com a preservação da vida do conjunto da sociedade o que representam, um na prefeitura de Goiânia e outro na Câmara Federal, Rogério Cruz e Francisco Jr jamais estariam trabalhando abertamente para propagar Covid-19 e ajudá-la a matar justamente as faixas da população que eles ingênua ou maliciosamente acham que estão defendendo ou protegendo. A abertura dos templos e igrejas, em plena segunda e mais mortal onda da pandemia é uma proposta criminosa, que coloca bens materiais, o dinheiro, enfim, acima das salvaguardas obrigatoriamente devidas aos bem aventurados que acreditam em um mundo acima deste frio e cruel que nos cerca a todos.