Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

17 mar

Mendanha, com o pai atacado pela Covid-19 (além de 2 filhos, 5 tios e a mãe) e internado em estado grave, assume a liderança do negacionismo em Goiás, juntamente com o extremista maluco Gayer

A resistência de Aparecida ao decreto do governador Ronaldo Caiado que instituiu o sistema 14×14 de fechamento do comércio, indústria e serviços tem como escopo o projeto político do prefeito Gustavo Mendanha, que sonha se tornar candidato a governador em 2022 – apresentando-se desde já como alternativa a Daniel Vilela para representar o MDB naquela eleição. Há mais, no entanto. Muito mais. O deputado federal Major Vitor Hugo tem se esforçado para conquistar o apoio de Mendanha e passou a sinalizar com verbas federais, insistindo para que ele radicalize na decisão de flexibilizar o funcionamento das atividades econômicas não essenciais no município – dentro da linha negacionista do presidente Jair Bolsonaro, que é contra qualquer tipo de lockdown, parcial ou não.

Mendanha não fechou a sua cidade, que é hoje a única de grande porte em Goiás a não seguir o sistema 14×14, inclusive contrariando o prefeito de Goiânia Rogério Cruz, que não hesitou para suspender o andamento normal da economia da capital – hoje, tal como Aparecida, classificada como em situação de calamidade, sem vagas de UTI ou de enfermaria para receber pacientes graves ou não da Covid-19. Aparecida chama a atenção do país por fugir da exigência de implantar um controle mais rígido da movimentação de pessoas e aglomerações e está inclusive na mira do Ministério Público, que pode a qualquer momento acionar o prefeito na Justiça para que cumpra o decreto estadual e resguarde a população de maiores riscos frente à propagação descontrolada do novo coronavírus na região metropolitana, a maior populosa do Estado.

Major Vitor Hugo passou a trabalhar dia e noite contra o decreto de Caiado. Ele pressionou o prefeito de Anápolis Roberto Naves para não seguir o modelo 14×14, que prescreve portas fechadas para o comércio, indústria e serviços por 13 dias, seguindo-se outros 14 dias de reabertura e assim consecutivamente até o arrefecimento da pandemia. Em um diálogo ríspido, pelo que se sabe, Naves recusou-se a atender o parlamentar e ainda avisou que poderia tornar pública as ameaças que foram feitas, no sentido de que verbas federais para o município seriam cortadas. Major Vitor Hugo recuou, mas continua investindo em Gustavo Mendanha, hoje transformado em líder da linha de negação da Covid-19 em Goiás, tanto que fez uma live com o extremista Gustavo Gayer, o mesmo que liderou juntamente com a vereadora goianiense Gabriela Rodart, da DC, bolsonarista de primeira hora, as tentativas de fechamento da BR-153 em protesto contra as medidas restritivas em Goiás.

Na live, transmitida pelo Instagram, Mendanha e Gayer trocaram elogios e afinaram posições comuns contra o decreto estadual, entre outras amabilidades. O prefeito aparece afirmando que está sendo vítima de ataques por tentar preservar a economia do seu Aparecida. Gayer retruca que Mendanha está “defendendo o povo aparecidense da miséria” e o conclama” a se fortalecer não esmorecer na luta contra as ações de prevenção sanitária”, dando a entender que a pandemia não passaria de um engodo da imprensa, “que está comprada e faz o jogo do governador Ronaldo Caiado”. O prefeito de Aparecida tem recebido críticas pesadas, inclusive da parte de médicos, por não agir em unicidade com Goiânia, que adotou o modelo 14 x 14 e paralisou a capital, com o objetivo de reduzir a disseminação da nova doença. Ao manter o que chama de escalonamento intermitente por regiões, ele flexibilizou a quarentena, digamos assim, colocando em risco não só os moradores da sua cidade, como também de Goiânia.

Mendanha enfrenta problemas sérios dentro da sua própria casa com a Covid-19. Cinco tios, a mãe e dois dos seus filhos foram contaminados. Piorando as coisas, nesta quarta, 17 de março, seu pai, o ex-deputado Leo Mendanha(foto acima), foi internado em estado grave na Clínica Santa Mônica, acometido pela mesma Covid-19 que ele se recusa a aceitar como motivo para suspender as atividades essenciais não econômicas em Aparecida, apesar do colapso do sistema municipal de saúde tanto privado quanto público. Ele costuma aparecer em fotografias com os olhos arregalados, mas não quer ver que há aparecidenses morrendo por falta de UTIs. Ou nega o que vê.