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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

02 abr

Crise na prefeitura de Goiânia(3): Arthur Bernardes ocupa todos os espaços, aproxima-se de Caiado e organiza o projeto de poder da Igreja Universal, agora baseado em Goiânia, mas com projeção nacional

O MDB foi tragado pela evolução dos acontecimentos na prefeitura de Goiânia. Isso depois da posse sob a carga emocional da morte do prefeito eleito Maguito Vilela, quando Rogério Cruz entregou 100% do Paço Municipal à ganância do filho Daniel Vilela, que não se preocupou em deixar sequer migalhas para o titular do poder municipal e o seu partido, o Republicanos. Pelo primarismo politicamente falando, esse arranjo não poderia durar muito tempo – como não durou.

Rogério Cruz, sabemos, é incapaz de voar alto. Não é águia, tem mais jeito para coruja. O que houve é que ou procurou orientação junto a direção nacional do Republicanos, onde abundam raposas, ou foi alvo de uma intervenção. Seja uma ou outra hipótese, a consequência é que o partido mandou para Goiânia um quadro altamente qualificado, Arthur Bernardes(foto), designado para a secretaria municipal de Governo no lugar do petulante Andrey Azeredo e em poucos dias capaz de ocupar um espaço significativo na articulação política do alto do Park Lozandes, inclusive com a retomada dos espaços orçamentários antes apropriados pelo MDB. Talvez, até, possa ser definido como o prefeito de fato de Goiânia, sem exagero.

Bernardes foi quem levou Rogério Cruz a aderir ao decreto 14×14 do governador Ronaldo Caiado para o isolamento social com vistas ao combate à Covid-19. Ele enxergou rápido a inconveniência de seguir o escalonamento intermitente por regiões inventado pelo prefeito emedebista de Aparecida Gustavo Mendanha, que entrou em processo intenso de desgastes com essa deliberação infeliz, ao contrariar a totalidade dos municípios goianos com as medidas flexíveis que adotou na sua cidade. Este blog não dispõe de informações concretas, mas deduz que, hoje, Arthur Bernardes tem diálogo direto com o governador Ronaldo Caiado, pelo alinhamento que a prefeitura tem mostrado em relação ao Palácio das Esmeraldas, para azar da emedebezada em geral.

Tudo isso tem a ver com o estelionato eleitoral que o MDB e Daniel Vilela impuseram a Goiânia em 2020. Por um lado, Rogério Cruz acabou se transformando no beneficiário final de uma fraude que corre o risco de levar a consequências judiciais sérias, dado ao acúmulo de fraudes – como, por exemplo, a posse de Maguito por assinatura digital, figura que não existe no ordenamento jurídico brasileiro. Por outro lado, ao se expressa em uma série de decisões adotadas em nome de um paciente que, na UTI do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, sequer sabia que havia vencido o 2º turno. Do jeito que estava é que não poderia continuar.

Somente crianças acreditariam em uma armação como a que foi avidamente orquestrada por Daniel Vilela no início da atual gestão de Goiânia, esfolando Rogério Cruz e mostrando que não aprendeu com o pai de longa e até certo ponto carreira política vitoriosa. Arthur Bernardes, ao vir para o jogo, foi o instrumento adequado para desmanchar a farsa emedebista e o gatilho para recolocar as coisas no seu devido lugar, isto é, Rogério Cruz é o prefeito, o Republicanos é o seu partido e é desse princípio que o concerto de forças da prefeitura da capital deve partir, se é que política tem alguma lógica.