Crise na prefeitura de Goiânia(4): reação de Rogério Cruz e do Republicanos visou recuperar o controle do orçamento, abrir diálogo com a Câmara e direcionar a ocupação de cargos comissionados
O MDB está sendo expurgado do secretariado do prefeito não eleito de Goiânia Rogério Cruz por três motivos que podem ser facilmente entendidos: 1) a recuperação do controle do orçamento da capital. o segundo maior do Estado, que estava todo nas mãos dos indicados de Daniel Vilela; 2) a necessidade de abrir diálogo com a Câmara Municipal e garantir governabilidade para o Paço Municipal, ainda mais diante das frequentes citações sobre a possibilidade de impeachment cujo gatilho seria a ilegitimidade do prefeito; e 3) a retomada dos cargos comissionados, inclusive os mais de 300 que foram adicionados no fim do ano passado pela “reforma administrativa” urdida por Daniel Vilela e aprovada na Câmara pelo então vereador Andrey Azeredo, a toque de caixa.
Os itens 1 e 3 representam, na prática, um patrimônio político valioso, capaz de projetar para cima qualquer grupo ou partido político – e foi o que Daniel Vilela imaginou para o MDB ao tomar posse de tudo e não deixar nem migalhas para o prefeito e o Republicanos, menos ainda para vereadores e aliados menores. Não havia alternativa: ao assumir o mandato sob a carga emocional da morte do prefeito eleito Maguito Vilela, o vice acabou naturalmente intimidado a ceder 100% das decisões, atordoado com o fardo que de repente desabou sobre os seus ombros. O arranjo, no entanto, mostrou-se rapidamente insustentável. É possível concluir que Daniel e o MDB foram ingênuos ao acreditar que levariam para casa, sem dividir com ninguém, um butim sobre o qual na verdade não tinham domínio formal.
Sim, porque o prefeito é Cruz. E o seu partido o Republicanos, que não ganharam o pleito em Goiânia e, pior ainda, não contribuíram em nada para a vitória de Maguito, que teve a Covid-19 como maior cabo eleitoral e Daniel Vilela como o seu manejador número um. Juntamente com a coordenação de campanha do MDB, ele montou o estelionato político que colocou um vereador do baixo clero, crente do pé rachado e ex-executivo 100% comprometido com a Rede Record no trono do alto do Pak Lozandes. Cruz é o que restou de concreto do golpe matreiramente aplicado no eleitorado goianiense. De Brasília, logo veio a orientação e os meios (leia-se: a indicação do secretário de Governo Arthur Bernardes) para que se providenciasse uma reação e a prefeitura recolocada nos trilhos: o poder é do prefeito e não tem como entregue ou sequer compartilhado a terceiros, ainda que moralmente tenham eles algum direito já que foram os que venceram a eleição, coisa que não existe na política.
É o que aconteceu, embora mais cedo do que o esperado, porém de acordo com a velocidade dos acontecimentos no mundo da internet e da pandemia do novo coronavírus. O MDB e Daniel Vilela, coitados, foram engolidos pela imaturidade e por não perceber que o único instrumento de pressão, sobre Rogério Cruz, seria a Câmara Municipal, onde o partido tem seis vereadores, que no entanto não vão seguir outra orientação que não seja a do Paço Municipal, convenientemente azeitados, com o resto da Casa, com a farta distribuição das benesses que antes estavam aproveitadas pelos emedebistas – alimentando suas ambições para o futuro, com prejuízo para o prefeito e seu partido, o que é inconcebível. Isso não poderia dar certo, como não deu. O orçamento da prefeitura e os cargos não são do MDB e sim de Rogério Cruz e dos Republicanos.