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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

03 abr

Crise na prefeitura de Goiânia(5): “plano de governo” de Maguito, que Cruz seria obrigado a executar, é ficção; para piorar, herança de Iris (89 obras inacabadas e caixa raspado) engessou a prefeitura

O MDB e seu presidente estadual Daniel Vilela cobram, desde já, a fidelidade do prefeito não eleito de Goiânia Rogério Cruz ao suposto “plano de governo” do prefeito eleito Maguito Vilela. Esse discurso, anotem aí leitoras e leitores, vai crescer nos próximos dias, na tentativa de se dar algum escopo moral para o rompimento da aliança com o Republicanos e com o Paço Municipal por absoluta falta de interesse de uma das partes – a que está entronizada e tem a caneta na mão no alto do Park Lozandes.

O que precisa ser dito: não existe “plano de governo” de Maguito. O candidato, antes de ser afastado pela negligência e imprudência diante da Covid-19, não só a dele, como também a dos familiares e a da coordenação de campanha emedebista, apresentou um amontoado desconexo de “ideias” baseadas no marketing e não em levar benefícios reais para a população da capital. Desde propostas repetitivas como “revitalizar o centro”, há mais de 30 anos apresentadas por todos os que postulam a prefeitura, até impossibilidades como a construção de 15 mil casas, que uma avaliação na coluna Giro, em O Popular, na época assinada pelo jornalista Marcos Nunes Carreiro, mostrou exigir R$ 2 bilhões de reais para o seu custeio – dinheiro que obviamente jamais apareceria.

Nunca foi da natureza de Maguito perder tempo discutindo planejamento ou analisando situações para extrair soluções ou algo que, no caso da eleição do ano passado, tivesse a aparência mínima de um “plano de governo”. Ele sempre foi superficial, sem paciência para tertúlias, acostumado a inventar na hora o que iria falar em entrevistas, reuniões ou debates, sem se apoiar em dados da realidade – que não se interessava em conhecer e tinha indisposição para ver e ouvir. Nesse sentido, Maguito era um político vazio. Essas características ficaram claras como a luz do dia no único debate de que participou na campanha, o da FECOMÉRCIO, quando seu tradicional semblante distraído foi mais uma vez exibido enquanto entoava generalidades tipo “melhorar a qualidade de vida” dos moradores da capital ou “investir em tecnologia para transformar Goiânia em cidade inteligente”. Tudo besteirol para pescar votos. Tanto que quem elencou as promessas para mostrar na televisão foi o marqueteiro Jorcelino Braga, expert em maquiavelismo publicitário, mas sem noção alguma dos desafios que o futuro de Goiânia coloca para quem tem a intenção de governá-la.

Rogério Cruz não deveria se preocupar com a cobrança do MDB e de Daniel Vilela para que se mantenha leal a algo que nunca existiu, ou seja, o tal “plano de governo” de Maguito. Já passou da conta o prefeito gastar tempo e recursos, embora poucos, com os programas IPTU Social e Renda Família, compromissos de campanha rascunhados sobre as coxas, sem nenhuma criatividade e menos ainda qualquer propósito social de profundidade – tanto que, levados à prática em tempo recorde pela prefeitura, não tiveram nenhuma adesão diante da formulação mesquinha, improvisada para afastar e não atrair os possíveis beneficiários. Nem um nem outro deram em nada até agora a não ser em monumental fiasco.

Para engessar a gestão de Cruz, já bastariam as 89 obras que o ex-prefeito Iris Rezende deixou inacabadas, sem recursos em caixa para sequer garantir um ou dois meses de andamento. Para se livrar desse passivo, o atual comando do Paço Municipal vai ser obrigado a consumir os anos de mandato que tem pela frente, isso se a administração dos Republicanos conseguir vencer as turbulências e chegar a um encerramento normal. Buscar uma marca, nessa área, será impensável. Nem Hércules, que fez os 12 trabalhos, daria conta. O cipoal de viadutos, duplicações, avenidas, asfaltamento, CMEIs e mais uma infinidade de construções que Iris deixou como legado para o seu sucessor é trágico, mais ainda quando se lembra a intensa propaganda sobre uma revolução na prefeitura, com as finanças saneadas e a cidade transformada em uma moderna metrópole graças aos investimentos na sua infraestrutura, tudo ilusão.

Com o MDB e Daniel Vilela empoleirados na prefeitura, insistindo na fantasia do “plano de governo” de Maguito e acrescendo-se a desordem das obras deixadas por Iris, Rogério Cruz e o Republicanos não passariam de marionetes de um morto, em nome dos quais alguns vivos falavam – e ponha-se vivos nisso -, e de um passado cuja tentativa de reedição, nos últimos quatro anos, deixou um caos para Goiânia em matéria de engenharia pública. Não havia alternativa e eles resolveram romper. Se vão dar certo no rumo que escolheram, isso são outros quinhentos.