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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

05 abr

Isso ninguém nunca viu antes: Gustavo Mendanha aproveita infecção pela Covid-19 para se promover e inventa o marketing político hospitalar

O prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha foi infectado pela Covid-19 justamente no município onde, coincidência ou não, vigoram as medidas mais flexíveis para o enfrentamento à Covid-19 em Goiás e a marca das 1.000 mortes deve ser registrada ainda nesta semana.  Mendanha teve que ser internado no Hospital Santa Mônica, em Aparecida. Seu pai, o ex-deputado estadual Léo Mendanha, encontra-se em estado grave no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, o mesmo onde morreu o prefeito eleito de Goiânia Maguito Vilela. De resto, dois filhos, a mulher, a mãe e cinco ou seis tios também se contaminaram, ampliando ainda mais a coincidência. Mas, para Mendanha, não há problemas: a vida continua mesmo com a sua transferência para o hospital e ele continua fazendo o que gosta, dia e noite, ou seja, marketing político.

Ninguém nunca viu antes alguém aproveitar uma temporada hospitalar para fazer média, nem mesmo um ou outro político, tipo de gente que costuma não ter meias medidas quando se trata de aparecer e tentar conquistar votos. Mendanha não se avexou. Ele começou quando o pai foi internado no mesmo hospital, publicando uma foto em que Léo aparece deprimido, aparentando sonolência, com um cateter de oxigênio no nariz. A foto circulou e levou o próprio prefeito a reclamar dos adversários que estariam “usando a imagem” do ex-deputado para atingi-lo de alguma maneira que ele não esclareceu. Só não disse que foi quem teve a iniciativa de publicar a foto.

Após pegar o coronavírus, Mendanha ficou em casa, tendo anunciado nos seus perfis sociais que nem mesmo faria postagens nos próximos dias, atendendo a recomendação médica para repouso absoluto. Horas, depois lá estava ele, pendurando áudios jurando que tudo estava indo bem e que ele seguia antenado com a gestão da prefeitura, em especial em relação às ações de enfrentamento à Covid-19. Vários vídeos se seguiram até que, piorando, acabou levado para um leito hospitalar, onde, pelo jeito, encontrou o cenário ideal para enviar sem parar mensagens sentimentais para os seus seguidores. E pôs as mãos à obra.

Alguém deve ter dito ao prefeito ou ele se convenceu por conta própria de que exibir o rosto em imagens sofridas, com camisola de hospital e o indispensável cateter de oxigênio(veja os prints acima) no nariz, mais frases dramáticas do tipo “estou vivendo dias difíceis” ou “estou refletindo muito, é um aprendizado”, rende pontos para as suas pretensões eleitorais. É a dimensão pessoal levada às últimas consequências para a praça pública. São várias postagens, já. Uma, até, expondo os filhos, que apareceram em uma chamada de vídeo acompanhados de frases melosas de Mendanha. Tudo gera dúvidas e questionamentos, mas, vamos lá, em última análise é cada que decide o que fazer com a sua vida privada, optando ou não pelo bom senso e pela moderação. Não, nada como o que acontece em Aparecida foi visto até hoje, em qualquer parte. Está inventado o marketing político hospitalar. Só falta saber o que os médicos acham da ideia de um paciente de risco (tem comorbidades) transformado em comunicador 24 horas por dia. E as enfermeiras. E os vizinhos de quarto. E todos, enfim, que estão assistindo a esse inacreditável espetáculo midiático.