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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

06 jul

Caiado e Daniel Vilela, juntos, é o fato mais relevante da política de Goiás desde 1982 e tende a constituir um eixo de poder tão sólido que pode durar décadas

Dois dos políticos mais intransigentes e durões, digamos assim, que Goiás já viu em todos os tempos, mudaram completamente as suas trajetórias pessoais e evoluem para uma aliança, nas eleições de 2022, capaz de se constituir em um eixo de poder tão sólido que poderá durar anos e anos – como vai ser o resultado da união do governador Ronaldo Caiado e o presidente estadual do MDB Daniel Vilela para passar uma borracha no passado e criar uma nova realidade para o Estado de Goiás.

Daniel Vilela foi adversário de Caiado em 2018, em uma eleição que o emedebista não tinha a menor condição de vencer, mas na qual procurou marcar presença atirando pesado no adversário. Este, por sua vez, nunca foi de contemporizar com quem quer que seja, muitas vezes até chamando para resolver no braço. O emedebista despontou na política na sombra do pai, o conciliador Maguito Vilela, mas mostrando estopim curto e intolerância com quem atravessava seu caminho, o que o levou a um dos maiores erros que um presidente de partido já cometeu no Estado, qual seja a expulsão dos prefeitos do MDB que corretamente  não apoiaram a sua candidatura suicida a governador, cansados de 20 anos de derrotas, como deixou bem claro – e, repetindo, coberto de razão – o prefeito de Catalão Adib Elias.

Dois homens cabeçudos e determinados, portanto. Mas agora amaciados, um pela experiência do poder, que para ser bem sucedida precisa de universalização e ele entendeu isso melhor do que qualquer antecessor seu, outro pelo drama individual pelo qual passou, com a Covid-19 levando a sua referência de vida. Quem diria que seria justamente da junção desses dois cabeçudos que Goiás está prestes a assistir ao nascimento de um projeto de futuro que começa pela formatação de uma chapa DEM-MDB, com Caiado buscando a reeleição acompanhado de Daniel Vilela na vice, programado para assumir o governo em 2026 e se candidatar à reeleição, após a renúncia do titular para postular uma senatória (serão duas vagas). E, quatro anos depois, com Caiado disputando novamente o governo, já que o filho e herdeiro de Maguito, em 2º mandato, não poderia se recandidatar e provavelmente teria a sua vez quanto ao Senado.

Esse desenho, hoje, é natural, e não tem nada de artificial ou forçado. A viagem conjunta de Caiado e Daniel a Aruanã, com a troca pública e eloquente de elogios entre os dois, sacode a política estadual na medida em que representa um passo concreto na construção do acordo entre os dois maiores partidos do Estado, enviando para as calendas o pouco que resta do PSDB e sinalizando para as demais forças políticas que a trilha a seguir é a da agregação e não da contestação – recado claro para que partidos como o PP, o PSD e o Republicanos, dentre outros, se incorporem a um processo de hegemonia política quase impossível de ser detido. Lembrando o mote da campanha de Caiado, em 2018, a fila vai andar.