Erro grave de Mendanha, ao inventar que 80% dos prefeitos do MDB seriam a favor da candidatura própria, precipitou as articulações pela antecipação do acordo com o DEM – que agora é irreversível
Mentira tem pernas curtas, diz o ditado popular, ao qual se acrescenta a lembrança de que também geram consequências muitas vezes danosas. Essa é a lição que sobra para o imaturo e inexperiente prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, que cometeu na semana passada o erro grave de inventar que 80% dos prefeitos do MDB seriam favoráveis ao lançamento de uma candidatura própria a governador em 2022 – portanto, contra a aproximação do partido com o DEM do governador Ronaldo Caiado.
Bastou um fim de semana de movimentação para desmascarar Mendanha como um embusteiro. Discretamente acionados pelo presidente estadual do MDB Daniel Vilela, 27 dos 28 prefeitos emedebistas lançaram um manifesto com críticas ao prefeito aparecidense pela dança ensaiada com o PSDB de Marconi Perillo, ao mesmo tempo defendendo não só o acordo com o DEM e Caiado, como também a sua imediata efetivação. Mendanha ficou na chapada como uma liderança isolada, irresponsável e sem qualquer ressonância entre os seus pares, mesmo administrando o segundo município mais populoso do Estado (do que parece não ter a devida consciência).
Em forma de carta ao presidente estadual do partido, o manifesto dos prefeitos emedebistas é primorosamente redigido, sugerindo um assessoramento intelectual de altíssimo nível que nenhum deles tem, porém sobra no entorno de Daniel Vilela. Ponto para ele. Uma manobra dessa envergadura requer perfeição para atingir o seu objetivo sem qualquer desgaste, o que foi plenamente alcançando, ao custo de deixar Mendanha exposto em um constrangimento sem tamanho, resultado da balela dos 80% a favor da candidatura própria – que nunca existiram.
É o que acontece com quem mistura ressentimentos pessoais com ação política (campo em que a inspiração deve ser sempre coletiva). Mendanha tem ódio por Caiado. Muitos imaginam que em razão do apoio que o governador deu na eleição passada para a sua adversária Márcia Caldas, do Avante, senão por um motivo muito mais sério: as duas operações da Polícia Civil que investigam desvios na prefeitura de Aparecida, uma das quais no Hospital Municipal, onde a mulher do secretário municipal de Finanças André Rosa foi flagrada comandando um esquema de superfaturamento de exames. Para piorar, o casal foi intimado a prestar esclarecimentos, mas recusou-se, alegando o direito de não produzir provas contra si próprios, o que corresponde a uma eficiente autoincriminação.
Para Mendanha, esses inquéritos – que prosseguem – têm motivação política, desculpa esfarrapada de todos os que são alvo de apurações da polícia ou do Ministério Público. Como ele não sabe em que pé estão as averiguações e vive incomodado pela premência de novos desdobramentos – ainda mais quando não promoveu nenhuma auditoria interna e não afastou do seu secretariado os suspeitos. Há algo cheirando mal no prédio da Cidade Administrativa, onde o prefeito tem o seu gabinete. O seu secretário de Saúde, por exemplo, está condenado a mais de cinco anos de prisão, por desvios praticados no Hospital Araújo Jorge, logo lá, onde se cumpre uma das missões mais nobres e humanitárias da Medicina em Goiás, que é o atendimento a pacientes oncológicos sem recursos.
O “menino de Aparecida”, ideia destrambelhada que meteram na cabeça de Mendanha para alimentar a sua vaidade com a hipótese de repetição do fenômeno do “moço da camisa azul”, mote da eleição de Marconi Perillo em 1998, passou um atestado público de incompetência e despreparo depois do tapa na cara que recebeu dos seus 27 colegas. O secretariado miúdo que o rodeia apregoa que ele precisa sair da sombra de Daniel Vilela, por ser maior, na medida em que tem nas mãos o poder de administrar um portento como Aparecida e Daniel não tem nada, depois de descamisado pelo prefeito Rogério Cruz. E que, pelo peso político e pessoal, representaria sozinho, sim, 80% da força dos 28 prefeitos emedebistas.
Acredite quem quiser: a insanidade, como se vê, tomou conta de Mendanha e dos seus acólitos.