Aliança para o futuro(2): base de Caiado tem insatisfações diante da aliança com o MDB, mas é refém da imensa autoridade moral do governador e da sua decisão quanto ao melhor para 2022
Sim, é verdade que existem insatisfações dentro da base do governador Ronaldo Caiado diante do iminente acordo com o MDB para formar na chapa liderada pelo DEM para as eleições de 2022. E são até expressivas, envolvendo um prefeito de peso como Adib Elias, de Catalão, e dois senadores da República, Luiz do Carmo, do MDB, e Vanderlan Cardoso, do PSDB. Não é pouca coisa.
O problema são as motivações que empurram esse grupo de descontentes, todas relacionadas com interesses pessoais contrariados e bem distantes, mais muito longínquas mesmo, de qualquer fundamento público relevante ou discordância quanto a propostas para o futuro de Goiás. No caso de Adib Elias, trata-se de um ressentimento pessoal, aliás até justo: ele foi expulso do MDB, partido da sua vida, por Daniel Vilela justamente por ter apoiado Caiado em 2018, liderando um núcleo dissidente de prefeitos emedebistas formado por Paulo do Vale (Rio Verde), Renato de Castro (Goianésia), Fausto Mariano (Turvânia) e Ernesto Roller (Formosa). Pois bem: após essa monumental humilhação, ele, Adib, é chamado para apoiar quem apontou a porta da rua para ele? Não é fácil.
Luiz do Carmo tem um escopo diferente. Sem um único voto, transformou-se em senador porque era 1º suplente de Caiado e assumiu com a renúncia desse quando assumiu o governo do Estado. Lógico, quer continuar. Só que não tem nem densidade eleitoral nem perfil majoritário para figurar em uma chapa que se pretenda competitiva para o ano que vem. Para piorar, é político de segmento, ligado à Assembleia de Deus, munição insuficiente para conquistar a vaga senatorial na principal chapa que será apresentada em 2022, a da reeleição de Caiado. Como não é bobo, sabe que se estiver ao lado do governador, tem chances teóricas de se reeleger, mas isso desaparece se Daniel Vilela for o vice, já que não fariam sentido dois nomes emedebistas em uma mesma chapa.
Em relação a Vanderlan, há uma combinação de mágoa pela derrota em Goiânia em 2020, quando foi vítima de um estelionato eleitoral comandado por Daniel Vilela, com o desejo de assegurar um cenário futuro mais favorável para a sua carreira – Daniel, sendo o vice de Caiado e com uma vitória em 2022, fatalmente assumiria o governo em 2026, com a renúncia do titular para disputar o Senado, e seria candidato à reeleição, bloqueando todos os espaços para quem quer que seja, pelo menos na base governista. O xis da questão é que qualquer vice, não só Daniel, ofereceria o mesmo risco para o senador nos dias que virão, a menos que ele queira indicar a sua mulher Izaura Cardoso para formar na chapa de Caiado, como se comenta.
Em resumo, são obstáculos internos dentro do grupo de apoio atual a Caiado que podem até incomodar, mas sucumbem pela falta de legitimidade moral ou política, baseando-se apenas em interesses pessoais contrariados e não, como dito aqui, em teses de conteúdo ou ideias para Goiás. Nada disso. Com a sua indiscutível autoridade em matéria de conceitos e princípios, Caiado se livra disso sem maiores dificuldades e dá o melhor rumo para 2022.