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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

31 ago

Aliança para o futuro(final): Daniel Vilela já tem em mãos o resultado da consulta às bases do MDB, majoritariamente a favor da aliança com o DEM; Mendanha pode pegar a portar da rua

O resultado da consulta às bases do MDB sobre a aliança com o DEM já está nas mãos de Daniel Vilela, que analisa o momento oportuno para a sua divulgação: a maioria esmagadora dos poucos mais de 140 membros da comissão executiva do partido, dos diretórios e das comissões provisórias municipais posicionou-se a favor do apoio à reeleição do governador Ronaldo Caiado, vetando a tese da candidatura própria em 2022 e – detalhe que ainda precisa ser acertado quanto a sua formalização – da indicação de Daniel para a vaga de vice na chapa governista.

São favas contadas, portanto. Em um dos movimentos de maior profundidade na história política de Goiás, o MDB e o DEM vão se unir para as eleições do ano que vem, retirando todo o oxigênio da oposição e lançando para a beira do caminho quem não se adequar, isso em termos da base do Palácio das Esmeraldas e dentre os emedebistas. Não será fácil se levantar contra esse acordo, que cria um eixo de poder sem precedentes no Estado e se projeta, caso seja bem-sucedido nas urnas de 2022, para um futuro que pode ultrapassar a próxima década, com facilidade, com o revezamento das candidaturas de Daniel e Caiado ao governo e ao Senado.

Quem ficará contra? Óbvio, o PSDB, ou o que restou dele, o que não é muito, bastando avaliar o encontro que os tucanos promoveram em Valparaíso: um verdadeiro fiasco de plateia e de palco, em que o partido mostrou o que é hoje, ou seja, nenhum prefeito, três deputados estaduais (Gustavo Sebba, Leda Borges e Hélio de Sousa), Marconi Perillo e José Eliton. Nada mais. Depois do PSDB, vem entre os contrariados a aventura solitária do prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, um político muito abaixo das exigências de uma candidatura majoritária em nível estadual. A esquerda, liderada pelo PT e pelo PSB, pesa pouco e depende das conexões que se fizerem com a candidatura presidencial de Lula. Alguém acrescentará que o PL estará alinhado contra Caiado e o MDB, mas o partido de Magda Mofatto oscila para cá e para lá e só tem coerência quanto a apoiar Jair Bolsonaro. Ou então o PP, do tortuoso Alexandre Baldy, que quer ser candidato a senador, embora sem consistência nenhuma, mas nenhuma mesmo para tanto, mesmo assim ameaçando também se perfilar em contrário a chapa Caiado-Daniel se Baldy não ganhar a vaga senatorial – projeto impossível, sobre o qual ele deveria ter a consciência de compreender que o governador jamais se alinhará a quem passou pela cadeia da Polícia Federa e continua réu em processo de corrupção.

Basicamente, é isso. Há por aí um Patriota ou outro, um Jânio Darrot e quejandos, sem peso para redefinir ou reorientar o processo de ascendência política aberto pelo convite formal de Caiado para que o MDB participe da sua chapa. O que importa é que essa articulação esgota o fôlego da oposição para 2022. É fato. O MDB tem mais de 20 anos de candidaturas perdidas a governador e parece que aprendeu a lição, raciocinando a longo prazo. Compor agora, para voltar ao poder em 2026, quando Daniel Vilela, se for o vice de Caiado em 2022 e se vencerem, assumirá o governo para se candidatar à reeleição, com a renúncia do titular para disputar o Senado, como se espera.

Ao aparecer no diretório estadual do MDB, de surpresa, para colocar na mesa a proposta de aliança com o DEM, Caiado simplificou o processo político para o ano que vem e deixou os adversários desconcertados com uma jogada que eles só esperavam muito mais adiante. Mais de 10 dias já se passaram e ninguém reagiu, nem na base do Palácio das Esmeraldas nem dentro do MDB. Provavelmente porque, na verdade, não há reação possível.