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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

18 set

Em menos de um ano, Daniel Vilela colhe a segunda traição – primeiro Rogério Cruz e agora Mendanha – e aprende que ingratidão é o escopo de quem está na política, mas não tem caráter

Em um encontro da sede da produtora Kanal Vídeo, do marqueteiro e financista Jorcelino Braga, sexta, 17, o presidente estadual do MDB ouviu do prefeito de Aparecida, seu ex-“irmão”, como Mendanha repetia todo dia, que ele não aceita o resultado da consulta às bases do MDB que apontou maioria esmagadora de mais ou menos 95% a favor da aliança com o DEM – com a quase certa figuração de Daniel na vice da chapa da reeleição do governador Ronaldo Caiado, o que indica um caminho brilhante para o seu futuro, em caso de vitória, ao assumir o governo em 2026 com a saída de Caiado para postular o Senado, e disputar a reeleição com enormes chances de vitória.

Menos de um ano após a morte do pai Maguito Vilela, Daniel colhe a segunda traição, que, como a primeira, de Rogério Cruz na prefeitura de Goiânia, tem como escopo o mau caratismo impulsionado pelos gananciosos interesses pessoais e certos desvios de personalidade. Sabiam, leitoras e leitores, que foi Daniel quem articulou a indicação de Cruz para a vice de Maguito, em um acerto com o deputado federal João Campos, que levou o Republicanos para a coligação com o MDB em 2018? Pois é. O atual prefeito jamais seria sequer resquício do que é hoje, sem Daniel. Mas não quis nem saber: assumiu e chutou a bunda do filho de Maguito, acreditando-se um líder e condutor dos interesses da população de Goiânia, o que não é, não será jamais e ele vai conferir assim que sair a primeira pesquisa de avaliação da sua popularidade, enquanto brinca de administrar um dos maiores centros urbanos do país.

Traído por Cruz, Daniel experimenta agora o mesmo veneno com Mendanha. A reunião na produtora Kanal Vídeo mostrou que o prefeito aparecidense, como já vinha vazando, acha-se mesmo um “mito”, um mal-agradecido crente de que não deve nada aos Vilelas que o transformaram de apagado vereador aparecidense em tudo o que é hoje. Ser prefeito pela segunda vez de um potentado urbano como Aparecida, onde falta tudo para a população, não é pouco, mas inalcançável para Mendanha sem o apadrinhamento que teve. O mesmo Mendanha que acaba de dar um pontapé em Daniel. Aguardem, amigas e amigos: isso ainda vai custar caro para ele. O que o velho e fiel emedebista Léo Mendanha diria da sujeira inqualificável que o seu filho está fazendo?

Trair, em política, significa que o mesmo que ser inconfiável. Quer dizer que ninguém pode correr o risco de acreditar no que o traidor diz, em qualquer circunstância e a qualquer um. Assim, a defesa da candidatura própria é papo furado. Mendanha quer mesmo é sair da sombra do antigo “irmão” e cortar os laços, inclusive com a memória de Maguito, que o incomoda ao projetar a imagem de que não se fez pela sua própria liderança e capacidade, o que, a propósito, é a pura verdade. Pelo que se sabe da conversa na Kanal Vídeo, Daniel foi econômico e não perdeu tempo em convencer quem já estava decidido a tomar distância dele. Mendanha, ao contrário, falou muito e acrescentou uma novidade às suas reclamações contra supostas perseguições de Caiado, na eleição do ano passado e nas operações policiais que apuram corrupção na prefeitura – que prometem desdobramentos. Disse que foi menosprezado e diminuído ao não ser chamado, como prefeito da maior cidade administrada pelo MDB em Goiás, para participar das negociações para a aliança MDB-DEM. Dor de cotovelo, enfim. Ele não se acha um “mito”?

Sim, existem componentes de disputa e de ciúme na relação entre Mendanha e Daniel. Vá lá: ambos são jovens e, de certa forma, ainda imaturos politicamente, porém o filho de Maguito está léguas adiante do prefeito. Léguas. Mendanha, como articulador político, é burro. Rodeia-se de gente sem credencial, como o deputado Paulo Cezar Martins e… quem mais? Marconi Perillo? Sandro Mabel? Quantos oportunistas mais? Assim como Rogério Cruz traiu Daniel, Mendanha fez o mesmo e piormente. Nunca houve na história política de Goiás nada semelhante. O fel servido deve estar amargando a boca de Daniel, mas a compensação virá quando provocar indigestão no seu antigo “irmão”.