Em manobra arriscada, Caiado zera a estrutura de comunicação do governo a apenas 8 meses da eleição e renuncia a um trabalho estruturado que divulgava com consistência à sua gestão

A saída do jornalista Tony Carlo Bezerra Coelho da Secretaria estadual de Comunicação teve uma consequência que deveria preocupar o governador Ronaldo Caiado: significou o desmonte da eficiente e produtiva rede de divulgação montada e pilotada por Tony Carlo – com amplitude suficiente para cobrir mais de 300 pontos de mídia territorialmente espalhados e dar, diariamente, consistência para as ações do governo do Estado dentro de uma visão coerente e de sequência e conexão para as suas realizações. Não se tratava de divulgar notícias aleatórias, enfim, mas da montagem de uma imagem fundamentada e articulada, conceitual, enfim.
Consta que o afastamento de Tony Carlo está sendo seguido pela desmobilização da sua equipe, liderada pelo veterano e muito mais do que qualificado Deusmar Barreto, com a sua argúcia incomparável e texto tido como entre os melhores da história do jornalismo em Goiás. Com isso, foi para o ralo a estrutura criada desde o início da gestão desse grupo na Secom estadual – e quem conhece do ramo sabe que a remontagem desse projeto de comunicação custará tempo precioso e esforços que poderiam ser destinados a outras áreas, com as eleições se aproximando rapidamente em um horizonte de oito meses e desafios imensos no caminho de Caiado. Vejam bem, leitoras e leitores: eleições daqui a apenas oito meses.
Secretários de comunicação, em qualquer governo, costumam enfrentar fadiga funcional entre um ano e meio a dois anos de governo, muitas vezes menos. Não foi o caso de Tony Carlo. Porém, quase sempre, surge entre os demais secretários e o entorno do governante, inevitavelmente sob agressões e ataques da oposição, seja de onde for, uma tese bajulatória: a de que a gestão vai bem, se desenvolve maravilhosamente e atende a todas as expectativas, mas a comunicação dos seus atos é que não é a ideal. A intriga floresce por encontrar terreno propício entre os auxiliares que se imaginam vítimas inocentes das críticas e, sem entender o contexto social político, acreditam que poderia existir uma situação diferente em que as contestações seriam anuladas e eles e o governo reconhecidos. Alguns por ingenuidade, outros por malícia. Só que isso é uma fantasia infantil.
E ainda mais sob o domínio das redes sociais, campo onde só se destacam o deboche e o palavreado pesado – e quem quiser vencer uma eleição terá que fazê-lo sob o fogo pesado das dezenas, talvez centenas, de perfis que muito raramente dizem verdades, pródigas quase sempre tolices e fake news, em um mundo de superficialidades e bobagens que, no entanto, abala e mexe com os seus alvos. Caiado, se quiser mais um mandato, terá que aprender a conviver e a contornar esse cenário, não ceder a ele.
O novo secretário, não se sabe se provisoriamente ou em definitivo, é um técnico que nada entende de comunicação, Adriano Rocha Lima. Não há precedentes de titulares ex-machina que tenham dado certo na Secom estadual. O lugar também não é para aprendizes, pior ainda com as urnas aguardando o governador em um prazo tão curto. Seja mantido ou substituído, o fato é que qualquer novo ocupante, da área ou não, de Goiás ou de fora, gastará um bom tempo até que consiga recompor a máquina de disseminar notícias até então entregue a Tony Carlo, que ele, aliás, conseguiu também manter dentro de limites éticos e da seriedade e responsabilidade. Seria um ato de inteligência e de pragmatismo, até eleitoral, Caiado reconsiderar.