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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

05 mar

Demora de Meirelles inquieta a base de Caiado e levanta a suspeita de que ele pode, no final das contas, não ser candidato ao Senado

Instalou-se na base do governador Ronaldo Caiado uma inquietação – fundamentada – sobre a possibilidade de desistência do ex-ministro e atual secretário de Fazenda de São Paulo Henrique Meirelles quanto a sua candidatura ao Senado. Suspeita-se que existiriam motivos a levar Meirelles a mudar de ideia, muito provavelmente relacionados com a sucessão presidencial ou, numa outra extremidade, razões de cunho personalíssimo, mas em ambos os casos estritamente sob reserva, ou seja, desconhecidos do público.

O fato é que o ex-ministro não aparece em Goiás, fertilizando as especulações sobre a sua mudança de rumo. Pior: quando vem, mostra-se genérico e pouco assertivo em tudo o que diz, impressão, inclusive, que passou no seu último encontro com Caiado, poucos dias atrás, testemunhado pelo presidente estadual do MDB Daniel Vilela. Este, em avaliações posteriores, chegou a dizer a um interlocutor que Meirelles “precisa mostrar mais disposição”. O governador, por sua vez, não escondeu que a conversa, em algum sentido, transmitiu um preocupante desânimo.

Há duas visões em choque, no contexto estadual, envolvendo a candidatura senatorial de Meirelles. Uma, a inconveniência absoluta do fechamento da chapa governista agora, o que lançaria quase que gratuitamente possíveis insatisfeitos no colo do prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha – e isso, se for inevitável, deveria ser estrategicamente adiado até o limite, ou seja, até a época das convenções partidárias, entre 20 de julho e 5 de agosto. Outra, os reflexos negativos projetados pela indefinição sobre o ex-ministro, na chapa da reeleição de Caiado, na montagem das chapas proporcionais dos partidos aliados, o que, em especial, prejudica o PSD: sem se posicionar dentro da base governista, a legenda não receberá as filiações de candidatos com potencial eleitoral como o presidente da Assembleia Lissauer Vieira e o deputado federal José Nelto, cujo prazo legal para ingressar no partido pelo qual vão disputar o pleito se esgota no próximo dia 2 de abril. Mais: no limite, o PSD pode até perder o deputado federal Francisco Jr, que também necessita de chapa viável para se reeleger, também no grupo de Caiado.

Pelo sim, pelo não, o que ocorre é que Meirelles, sem pressa alguma, acabou enfraquecendo as expectativas em torno da sua candidatura e parece pouco interessado em renová-las, adiando sucessivamente o instante do desembarque em Goiás para iniciar a campanha, que, no caso dele, sempre representa gastos elevados e justamente por isso atrai um enxame de postulantes a deputado estadual e federal em busca de uma bem fornida “dobradinha” (e talvez uma justificativa para a demora).

Em tudo isso, há que se fazer uma constatação: Meirelles acabou se tornando o postulante ao Senado com maiores possibilidades de vitória, ainda mais se estiver na chapa da reeleição de Caiado. Tem serviços prestados, perfil para o mandato, estrutura de campanha e mais aceitação geral do que qualquer um dos outros, até mesmo o ex-governador Marconi Perillo, que ficou à sua frente na 1ª pesquisa Serpes, mas padece de vulnerabilidades insuperáveis. Será uma eleição relativamente fácil, no contexto das urnas que se desenha hoje para outubro.